Aproximações e distanciamentos práticos e conceituais A espiritualidade está entre os componentes constitutivos da identidade humana. O que comumente é denominado espiritual não tem nada de abstrato, ao contrário, é parte integrante do capital de cada indivíduo e, concretamente, identifica a pessoa e a torna singular. Na história da espécie, o ponto de virada na linha evolutiva se deu, efetivamente, quando o mundo ordinário passou a ser compreendido sob o ponto de vista da im
- uma breve reflexão sobre a Festa de Reis e a questão da (in)tolerância religiosa. Símbolo é mais do aquilo que representa algo. Símbolo é o que aponta caminhos; indica direções; sinaliza o rumo a seguir. Etimologicamente, símbolo é o que é lançado conjunta e unidamente. Um elo entre o aparentemente distinto. Símbolo é o elemento capaz de fazer ligação entre diferentes. Por outro lado, símbolo é o que aponta para algo além de si. A maior tarefa do símbolo é despojar-se de si
O Natal contraria a lógica da religião e inverte seus valores: destrona o céu e dignifica o ser humano.
Talvez seja por isso que tenha se reduzido sua festa a bolas e enfeites, porque a tentativa de sempre, nos discursos religiosos opressores, é banalizar a realidade. E, às vezes, a forma de fazer isso, por paradoxal que pareça, é por meio da divinização de valores, comportamentos e pessoas.
Mas, apesar de tudo isso, o menininho nasceu do ventre de uma mulher. É o cúmulo
Há em nós um desejo intenso por superação. Não há quem não queira, de alguma forma, ir além do estado atual das coisas. É o que, filosoficamente, se denomina transcendência. Embora seja tema predileto nos discursos religiosos, transcendência é faculdade humana e histórica, antes de ser exclusivamente teológica. Esse impulso é que faz mover a sociedade. É o que torna possível o avanço do conhecimento, da tecnologia, das relações e, acima de tudo, da consciência. Superar signif
Escrevo sobre o Natal com muito prazer e alguma dor. Esse exercício me ajuda a manter em dia a fé e os pés. De um lado, a beleza e a ternura do presépio e sua simbologia; de outro, o incômodo da dúvida sobre um Galileu do primeiro século, cujas histórias e experiências se parecem tão pouco com as dos deuses. Essa mescla, a mim, me é muito saudável. Fé e dúvida. Esperança e resignação. A forma tradicional de se contar as histórias do Natal faz a gente acreditar em coisas muito
As histórias em torno do Natal foram “domesticadas” ao longo do tempo. Pela tradição das igrejas, foram espiritualizadas ao ponto de não dizerem nada de concreto sobre a vida das pessoas; pela sociedade e seus mecanismos políticos e econômicos foram transformadas em propaganda e incentivo para o consumo desenfreado. O presépio se tornou um teatro inofensivo e o menino da manjedoura uma referência estéril de uma noite de festa e comilança. Os textos bíblicos alusivos ao Natal
Anos atrás o Papa veio a público e disse que não há clima para a celebração de Natal. Afirmou categoricamente: "Estamos perto do Natal: haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios, (…) mas é tudo falso. O mundo continua em guerra, fazendo guerras, não compreendeu o caminho da paz." Uma atitude, no mínimo, corajosa. Vinda de um Papa, mais ainda. Que bom haver entre nós uma liderança que foge do lugar comum e, em algum sentido, subverte a ladainha do politicamente corre
Quando Gabriel procurava pela casa humilde na cidade de Nazaré, estava apenas culminando um desejo há muito planejado no coração de Deus. Desde que o mundo ainda experimentava sua organização germinal, quando o Criador ainda pincelava os primeiros traços da Natureza e dos seres vivos mais embrionários, a ideia divina já indicava o termo do Cosmo e da História. Porque tudo foi criado por Ele, n´Ele e para Ele! Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por
O Natal é uma festa de muitos símbolos. Árvore, bolas, luzes, comidas e presentes. Todos estão direta ou indiretamente ligados a culturas do hemisfério norte. Boa parte deles remonta a religiões muito antigas que depois foram assimiladas e ressignificadas pelo Cristianismo.
Toda celebração, é claro, precisa remontar para antes de si e apontar para além de si. Precisa conjugar memória e esperança. Por isso, mesmo em outra cultura, vale a pena resgatar a simbologia desses ele
As histórias em torno do Natal foram “domesticadas” ao longo do tempo. Pela tradição das igrejas, foram espiritualizadas ao ponto de não dizerem nada de concreto sobre a vida das pessoas; pela sociedade e seus mecanismos políticos e econômicos foram transformadas em propaganda e incentivo para o consumo desenfreado. O presépio se tornou um teatro inofensivo e o menino da manjedoura uma referência estéril de uma noite de festa e comilança. Os textos bíblicos alusivos ao Natal
"Viajei para muito longe e tudo o que consegui foi voltar ao lar." Gandhi Escrevi diversas vezes sobre a inquietude que mora dentro de cada pessoa. Somos uma espécie incomodada e desalojada. A sensação que nos consome todos os dias é que estamos sempre em busca de algo perdido ou de alguma coisa que nos ultrapassa. A transcendência, por assim dizer, é o pão nosso de cada dia. Por isso, gostamos tanto de viajar! Viajamos porque desejamos sair de casa; porque ansiamos deixar pa
A religião de Israel se forjou a partir do diversificado sincretismo de povos e crenças que aprenderam a resistir ao poder opressor das cidades e reinos do Antigo Oriente Próximo. Essa foi, grosso modo, sua gênese. Uma coalizão de resistência. Apesar de haver, ao longo da história, a tendência de se institucionalizar, Israel preservou boa parte da energia original que o fez peregrino pelo deserto. Apesar de sua divindade, seus sacerdotes, seus edifícios e sua dinâmica social,
Uma das mais profundas belezas da Bíblia e suas histórias é a forma como as pessoas são apresentadas. Todos as personagens são vistas desde a perspectiva humana – com suas ambiguidades, limitações, paixões e potencialidades. Pedro é um ícone disso tudo. Está entre os personagens mais mencionados nos evangelhos. Do começo ao fim do ministério de Jesus, Pedro está sempre por lá. É porta-voz de muitos e do próprio senhor. É Pedro quem ouve que “tu és pedra e sobre ti edificarei
Num tempo de espetáculos e vaidades, a memória de João, o Batista, é mais do que inspiradora, necessária.
João remava contra a corrente. Caminhava solitário pelo deserto.
Apontava os equívocos das lideranças constituídas nos palácios e anunciava uma espiritualidade profundamente desprovida da pompa dos templos.
Vestia roupa simples e comia com singeleza e desprendimento.
Seus gestos e palavras estavam repletos de anúncio, denúncia e renúncia.
Quando fora procur
Justiça não é a melhor palavra para falar sobre Deus. Dois textos na Bíblia Hebraica ajudam na reflexão. No caso do livro de Jó, são 42 capítulos de uma longa e dramática história. Os capítulos 1, 2 e 42 são a moldura da história – sobre um homem que tinha tudo e tudo perdeu (dinheiro, saúde e família), apesar de ser reto e temente a Deus. No fim (no cap. 42) ele tem a restituição (se é que se pode falar sobre restituição de vida de familiares) – mas depois de um processo mui
Genealogias eram como carteira de identidade na Antiguidade. Os judeus de depois do Exílio da Babilônia passaram a dar especial importância a essa forma de comprovar a ascendência familiar das pessoas. Era uma espécie de “pedigree”. Obviamente, uma “árvore genealógica” é, do ponto de vista prático, impossível. A começar a contar pelos meus pais, em dez gerações acima, minha árvore teria mais de mil pessoas listadas. No caso de querer ousar vinte gerações, seriam mais de um mi
“Se o ladrão for achado roubando, e for ferido, e morrer, o que o feriu não será culpado do sangue.” (Ex 22,2) Tenho visto cada vez mais pessoas trazendo os textos do Antigo Testamento à tona, especialmente textos “legislativos” para aplicação a situações de crimes e violência na atualidade. As atualizações são praticamente mecânicas. Toma-se a tradução do texto hebraico em português (e tudo de complexo que significa uma tradução nesses casos) e simplesmente se aplica o signi
A festa de Corpus Christi é basicamente uma celebração ampliada e festiva de um dos sacramentos fontais da fé cristã: a Eucaristia. Tem a ver com a ideia de que o próprio Jesus está presente entre seus fiéis no simbolismo do pão e do vinho. É espiritualidade traduzida em carne e sangue. Na história da Igreja, houve inclusive disputas e rachas doutrinários por conta disso. Quem quiser se aprofundar, pode ler sobre “memorial”, “consubstanciação” e “transubstanciação”. Afinal, o