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"Venha o teu Reino"


Assim rezamos na oração do Pai Nosso.

Reino de Deus (ou reino dos céus) é uma expressão utilizada dezenas de vezes nos evangelhos. Está, como tema central, na pregação de Jesus. É disso que se trata seu discurso e sua vida.

É uma proclamação de fé sobre o governo, sobre o reinado, de Deus. Mas uma proclamação que guarda a ambiguidade própria dos desafios que tem a teologia.

Primeiro porque se trata de um reino que já está entre nós. E dentro de nós. Segundo porque se trata de algo que está ainda por se instalar, ainda por se realizar.

É afirmação do reinado presente de Deus sobre a vida e, ao mesmo tempo, proclamação e desejo da definitiva instalação desse no porvir.

O que não se pode perder de perspectiva é que se trata de reino - política. Ou seja, uma alternativa ao reino de homens, mas que, diferente de o anular, o supera. O reino de Deus é a certeza de que será Deus o governante, sem que para isso, haja anulação da dimensão política da história e da vida.

A primeira dimensão do reino é interior. "O reino de Deus está dentro de vocês." Uma semente de poder que habita o coração humano, mas que o impele ao serviço e ao diálogo, em vez de um poder autoritário que torna a vida presunçosa.

A segunda dimensão do reino é exterior. "O reino está no meio de vocês". Uma declaração de que o reino é uma tarefa a se realizar na agenda histórica da humanidade. Um desafio de natureza política, econômica, social e cultural.

Por fim, o reino é de uma dimensão escatológica. Ou seja, algo que depende de uma intervenção divina que rompa com o atual estado das coisas e inaugure um novo tempo.

Reino de Deus parece-me, assim, um apelo à conversão, é uma corajosa afirmação de fé no agora e no depois. Uma forma nova de viver consigo mesmo, com a sociedade e com o próprio Deus.

Só há reino onde mora a dialética tensionada do aqui e do lá; do agora e do depois; do "já" e do "ainda não".

Por isso, a tarefa da igreja, como continuadora do ministério de Jesus e de seu anúncio do Reino, é de caráter teológico, sim, mas não pode prescindir do chamado a "não se conformar a este mundo, antes transforma-lo pela renovação de sua mente".

É o que se pode chamar de "política da fé".

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