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Medos e promessas


Sobre medos e promessas

Teologia, Evangelho e Instituição

O medo é um sentimento imperial. Quando se tem medo de algo, o corpo todo coopera para a reação, seja reação para se esconder, seja para agir e enfrentar. Isso ocorre com pessoas e animais, mas com intituições é diferente. Instituições não têm relação de medo com nada nem com ninguém, apenas relações de conveniência e adequação.

Uma instituição se baseia sobre a lógica de, existindo, levar adiante sua chama originária e fazer dessa bandeira uma verdade a ser apregoada aos quatros cantos. Institui-se, assim, suas verdades e ideais e, para eles, cargos, funções, regras, metas, planos etc.

A questão é que com o tempo os meios se sobrepõem aos princípios e tornam os fins menos condizentes com as raízes e mais subservientes a si próprios.

As igrejas são os exemplos mais emblemáticos dessa esclerose. Nascem por força do Evangelho e a ele prometem prestar obediência e fidelidade. Cânones, doutrinas, ritos e pessoas ao Evangelho se curvam e, em nome dele, planejam e agem. Com o tempo, todavia, a Igreja passa a ser maior que o Evangelho e assume o protagonismo da história. Com isso, nada será mais importante nos processos do que a fidelidade à Igreja, mesmo que em detrimento ao Evangelho.

Quando disso tomamos ciência, as coisas já desandaram. Quando menos se percebe, os meios se tornaram ídolos para os quais nos curvamos e, inconscientemente, somos capazes de viver uma vida toda.

Amo a Teologia porque sua forma de pensar sobre a realidade é profundamente fiel ao Evangelho. O que mais vale é descobrir o sentido escondido por sob as cinzas da realidade. O que há de mais belo na Teologia é sua busca incansável por tornar o Evangelho compreensível para o tempo que se chama hoje.

Daí, talvez, a periculosidade da Teologia!

Se, na instituição, em regra, os meios se sobrepõem aos princípios e fins e a Teologia insiste em redescobrir sempre a semente originária donde tudo germina, fica claro que sua presença não é costumeiramente bem assimilada.

Óbvio está que me refiro à Teologia que se faz com base na Fé e na Ciência. Na plena capacidade de crer e confiar e na suprema arte de perguntar e criticar. Mas há outras formas de fazer teologia que não são dignas do nome que arvoram; são apenas arremedos do labor teológico. São discursos encomendados pela instituição e a ela servem cegamente. Dizem o que já está posto e apenas repetem acocoradamente o modo como as coisas estão e devem permanecer. Mais parecem manuais de alvos e metas.

Quando as instituições crescem e se deformam, a Teologia torna-se não querida. Sob o discurso da “morte da fé”, acusam-na de incrédula e cética. Não se percebe, entretando, que se trata da morte de uma fé já caduca e, por consequência, a semeadura de uma fé nova que precisa de solo arado e água pura para germinar.

Os que acusam a Teologia de ameaçar a fé sincera do cristão o fazem por ignorância ou por má-fé. Ignorância que deve ser relevada, desde que instada a se defrontar com as crises oportunizadoras de emancipação que a Teologia promove. Mas quando se trata de má-fé, a questão é outra e deve ser denunciada. Para que as coisas se mantenham como estão e os meios se sobrepujam aos fins, a Teologia deve ser posta de lado.

O grande desafio das instituições evangélicas é saber harmonizar o seu modus operandi com a riqueza e a liberdade do vento do Espírito. O curioso, entretanto, é que esse esforço só logrará êxito se for impulsionado pela força que a Teologia, ela mesma, exige de si.

Se é verdade que a Fé demanda institucionalidade, para que se realize historicamente, no fundo, a obediência a Deus exige, paradoxalmente, o exercício da mais profunda liberdade teológica, aquela que nos ajudar a sermos capazes de experiementar a Fé sem os ditames dessa ou daquela instituição.

Por fim, devo esclarecer: por menos que perceba e se aceite, as instituições sempre morrem; o que parece permanecer é a casca sob a qual os processos efetivamente se realizam. O que sempre permanece vivo é o discurso e a prática da Fé, isto é, a Teologia! Se as instituições conseguem se permanecer de pé é porque a Teologia insiste, espiritualmente, em se manter viva e em dar vida às instituições. Mesmo quando o vento sopra desde fora, quando a Teologia é posta para longe dos altares, é a força da originalidade perene do Evangelho que mantem as instituições capazes de se renovar e com a promessa de manterem vivas e relevantes.

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