A beleza da arte é dizer o que não existe. Não é sua tarefa falar com objetividade disso ou daquilo. Para isso, há a ciência e o jornalismo (quem dera fizessem seu trabalho!).
O registro artístico tem a ver com metáfora. Com poesia. Com inovação.
Por isso, dizer o que não existe é o primeiro movimento da criação. Aliás, tudo que aí está é resultado desse movimento criador, criativo e crítico do ser humano. Inventamos tudo. Tudo.
Talvez seja essa a razão pela qual os hedonistas antigos tenham utilizado a palavra grega “poiesis” (que originalmente significava ação, fabricação, trabalho) para expressar a ideia de criação, invenção. Por eles, poiesis virou poesia.
E se a gente para bem para analisar, a vida é poética mesmo. Uma ferramenta de trabalho é apenas mais um jeito inventivo de habitar o mundo. Inventamos, inovamos e desenvolvemos tecnologia porque não estamos satisfeitos com o mundo que a natureza nos deu.
Precisamos reinventa-lo. E temos reinventado tudo.
Nesse sentido, tudo é poético.
E é isso que nos salva.
Afinal, como diria o Valèry, “o que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem?”.
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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com
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