Novo?
Uma das coisas preocupantes na campanha eleitoral desse ano é o apelo pelo “novo”. Essa ideia de que, porque a política vai mal, então a gente precisa de renovação.
A tese está correta. Mas o resultado pode ser pior do que o que se tem.
Explico:
Primeiro e antes de tudo: novo é uma coisa; novidade é outra. Há que se ter cuidado.
Mudar a política não significa mudar nomes, mas mudar ideias. Há ideias que parecem novas, mas são, em verdade, reencarnações do jeito patrimonialista de gerir o Estado brasileiro.
Mudar nomes não significa necessariamente mudar posturas. Em geral, nossos novos políticos são cria de velhas gerações viciadas. Quando não são da família, são subsidiários dos partidos e esquemas que se perpetuam há décadas. Por mais novos que pareçam, reproduzem os paradigmas mais antigos que há.
Dizer que o Estado tem que ser menor pode ser um equívoco grave. O Estado brasileiro não é grande (em si). O problema é que gasta mal. Prefere gastar os recursos provenientes dos impostos em despesas financeiras de uma dívida que nunca foi auditada. Ganham os de sempre. E perdem os de sempre. Quem já tem, acumula. Quem não, suplicia na fila do hospital.
Esvaziar o Estado, da forma como andam nossos serviços públicos, é desassistir ainda mais quem mais precisa. E garantir ainda mais pra quem mais tem.
Enxugar o Estado à custa de redução de investimentos em educação, cultura, ciência, saúde e saneamento é imoral - sobretudo quando se gasta prodigamente em juros e num sistema de previdência que quer retirar direitos dos mais pobres e preservar os dos privilegiados de umas poucas castas.
E mais: quem defende enxugar o Estado, propõe fazê-lo sob a lógica da substituição privada dos serviços. Convenhamos: isso já é feito. E os resultados são péssimos.
Pior do que tudo isso é que tem gente que depende dos serviços e da previdência pública e insiste em apoiar essa ideia mirabolante de eleger gente “nova” que prega receitas velhas e totalmente atreladas aos interesses que são tudo, menos condizentes com as necessidades e direitos reais das pessoas.
Precisamos urgentemente de mudança, sim. Mas precisamos, para isso, de renovação de base na cultura política do país. E não apenas na substituição messiânica de nomes. Tampouco pelo esvaziamento da política. Engana-se quem sugere que precisamos de menos política. Precisamos de mais. Demais. De mais políticas públicas que tenham as pessoas como sua base e sua destinação prioritárias.
Novo e novidade são coisas diferentes. Tem “novidade” por aí querendo se passar por “novo”. Bobagem. Não nos enganemos. Já nasceu velha.
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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com
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