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Prof. Ricardo Lengruber (ricardo@lengruber.com)

ESQUERDA x DIREITA


INTRODUÇÃO

O Brasil vive uma polarização política que tem produzido muito rancor, violência e, ainda pior, tem gerado muita discussão mas pouca proposição.

De um lado, “esquerdistas”; de outro, “direitistas”. E outros tantos nomes elogiosos ou depreciativos, ao sabor de quem faz o discurso.

Mas, afinal, o que são esses conceitos e o que efetivamente eles representam?

1.

Antes de tudo, é preciso lembrar que essa ideia de polarização binária – entre bem e mal, eles e nós, certo e errado – é algo ancestral na cultura humana. É uma espécie de marca de identificação desde a pré-história quando tribos que disputavam territórios, alimentos e água digladiavam.

2.

Além disso, é preciso destacar que não existe política sem ideologia. Essa história de que há grupos ideológicos e grupos não ideológicos é falsa. Toda ação humana é ideológica. Toda ação política é ideológica. Falar de ciência, de gestão, de pragmatismo, de tecnocracia, de meritocracia, de fé, de valores, de família, de humanidade e de qualquer outra bandeira é fruto de orientação ideológica. Mesmo que inconscientemente, pensamos, agimos e fazemos escolhas ideológicas. Ideologia tem a ver com a maneira como damos significados ao nosso mundo. É o conjunto de representações da nossa realidade.

3.

Outro dado que não pode ser esquecido é que posicionamentos diferentes em termos de política sempre houve. Monarquistas e republicanos; oligarcas, aristocratas e democratas, por exemplo. Mas foi somente na construção do estado constitucional que a coisa ganhou forma e conteúdo mais claros. Em nome da garantia de se proferir opiniões e credos distintos (especialmente por causa da Reforma Protestante), o constitucionalismo moderno passou a ter a missão fundamental de garantir os direitos individuais e o espaço do pluralismo de ideias. Não demorou para que a própria concepção de Estado fosse alvo de visões distintas e conflitantes.

E é nesse contexto que nascem as disputas de ideias, narrativas e concepções sobre o Estado, a política, a economia e a sociedade. É aqui que surgem as ideologias políticas que sintetizam as principais visões de mundo: o conservadorismo e o progressismo; ou, mais especificamente: o conservadorismo, o liberalismo e o socialismo.

Em outras palavras: num eixo horizontal, direita e esquerda. Num vertical, conservadorismo e progressismo. Política e economia se alimentando mutuamente.

4.

Foi no finalzinho do século XVIII, com a Revolução Francesa, que as categorias esquerda e direita surgiram com os significados que, em certo sentido, perduram.

Quando os Estados Gerais foram convocados na França em 1789 pelo rei Luiz XVI e se transformaram em Assembleia Nacional Constituinte, os representantes do povo, do clero e da aristocracia se sentaram na sala de reuniões em uma disposição por afinidades ideológicas e programáticas. Mais à esquerda, os que se opunham ao veto legislativo do rei. À direita, os que eram favoráveis à manutenção do rei como tendo a palavra final na nação.

E um pouco depois, já após a Revolução e o período napoleônico, em 1815, essa dicotomia ficou mais acirrada. À esquerda, os liberais, representantes de uma nova França. À direita, os ultrarrealistas, defensores da velha França. E, nesse cenário de disputas, entre os polos, surge um “centro”. O que era dicotomia tornou-se tricotomia. E mais: novos espaços nos extremos e ao centro. Assim, configuraram-se grupos da extrema direita, direita, centro direita e centro até a extrema esquerda, atravessando a centro esquerda e a esquerda propriamente dita. Em outras palavras, a polarização já nasceu bem mais complexa e diversificada do que prometia.

Por isso, desde a origem, a polarização entre direita e esquerda, nas mais diferentes sociedades, é bem mais elástica do que as simples definições permitem. Falar apenas de direita e de esquerda é uma simplificação, talvez para ajudar na compreensão, mas que empobrece muito a reflexão. Além disso, essa simplificação reproduz esquemas mentais e simbólicos muito antigos, segundo os quais a direita está ao lado do poder estabelecido e a esquerda contra ele. Na própria linguagem (nos mais diferentes idiomas, inclusive), a direita é associada à retidão e à destreza, enquanto a esquerda é olhada como desastrada e torta. A direita é a destra. A esquerda é a sinistra.

Se é verdade que direita e esquerda nasceram como posicionamentos em relação à figura do rei na França do século XVIII, é verdade também que esses grupos (e todos os subgrupos formados a partir deles) foram assumindo formas, conteúdos e posições diferentes ao longo do tempo. E isso tem a ver com a própria mutabilidade da política e da história.

Até mesmo a linguagem e o conteúdo dos “ismos” são mutantes.

O conservadorismo de séculos atrás é diferente do conservadorismo de hoje. Ele nasceu como uma reação às mudanças produzidas pelas revoluções liberais, inclusive como reação ao próprio Iluminismo. Por isso, é também chamado de pensamento reacionário.

O liberalismo é aquele conjunto de ideias que se identifica com a própria modernidade e sua afirmação de liberdade. Por isso, defende a liberdade econômica com a mínima interferência do Estado; justamente porque nasceu como oposição ao poder absolutista do rei.

O socialismo, por seu turno, se desenvolveu preocupado com a situação concreta das classes trabalhadoras, especialmente por conta da industrialização. É atento a tal questão social.

DIREITA E ESQUERDA NA EUROPA

Um bom exercício é tentar compreender a relação entre direita e esquerda (num eixo horizontal), e conservadorismo, liberalismo e socialismo (num eixo vertical). E, além disso, compreender a evolução de todos esses conceitos ao longo do tempo.

1.

Numa primeira fase, ainda no século XIX, a esquerda política é liberal do ponto de vista econômico; enquanto a direita política é representada pelo pensamento conservador.

A esquerda era favorável a um mercado livre, a um Estado mais fraco, mais igualdade social e contrária aos privilégios do Antigo Regime. Por isso, boa parte da esquerda, nesse momento, é favorável às mudanças sociais, à democracia, à república e ao anticlericalismo.

A direita, pelo contrário, é favorável a um Estado mais forte, e acaba por se tornar anti-igualitária em termos sociais e econômicos, na medida em que favorece as hierarquias tradicionais, e defende a ordem, a tradição, a monarquia e a religião estabelecida.

2.

Num segundo momento, entre o final do século XIX e o início do século XX, as ideias socialistas ganharam força e passaram a ocupar a esquerda no espectro político. Os socialistas, na origem, têm uma visão de recusa dos privilégios e também de igualitarismo social e econômico. Com o amadurecimento do capitalismo na Europa, as análises socialistas mostraram que o livre mercado promoveu concentração de riqueza e desigualdade social.

Por isso, nesse momento, quando os socialistas ocupam a esquerda, os liberais são empurrados para o centro e os conservadores, para a direita. E, além disso, os socialistas começam a defender que o Estado tenha uma função mais forte para controlar a economia e garantir direitos iguais para todas as pessoas.

É nesse cenário que os conservadores passam a ser identificados com a direita e os liberais, ocupando o centro político, tendem a quase desaparecer ou a serem absorvidos pela direita ou pela esquerda. Quanto mais tradicionais são os liberais, mais capturados são pela direita conservadora; quanto mais atentos às questões sociais, mais os liberais se tornam afinados com os ideais socialistas da esquerda.

3.

Uma terceira fase, que resumiria o coração do século XX (a tal “era dos extremos”), é caracterizada por ideias extremistas e, em certo sentido, contrárias até à manutenção do constitucionalismo e do pluralismo.

De um lado, à esquerda, dá-se a ascensão do comunismo – posicionando-se contrariamente ao regime constitucional burguês ou contra os populismos autoritários.

De outro lado, ocorre a ascensão dos autoritarismos conservadores e do próprio regime nazifascista.

Para esse momento da História, a esquematização direita e esquerda e as ideias liberais e conservadoras não são exatamente as únicas, uma vez que os regimes autoritários extremistas e ditatoriais, independentemente do lugar ideológico em que se situam, são uma contestação ao próprio constitucionalismo. Por isso, talvez, seria necessário incorporar a esse esquema uma outra vertente de análise: a polarização entre autoridade e liberdade.

O curioso, no entanto, é que os regimes autoritários e totalitários se posicionaram tanto à direita quanto à esquerda; e o mesmo ocorreu com os regimes que preconizavam a garantia de liberdades. Em outras palavras, o século XX assistiu a eclosão de ditaduras de esquerda e de direita, indistintamente.

4.

Depois da Segunda Guerra Mundial, socialistas e conservadores, direita e esquerda, tornam-se mais moderados. Ambos, cada um à sua forma, aproximam-se do centro – marcadamente liberal.

É por isso que nas democracias do pós-guerra o socialismo é mais liberal, situando-se na centro-esquerda; e o conservadorismo, também mais sensível à economia de mercado, passa a ocupar a centro-direita.

E é assim que surgem, na Europa, por exemplo, as democracias com forte atenção às questões sociais. O Estado de bem-estar social nasceu e cresceu graças às vantagens econômicas dos liberais e a sensibilidade social dos progressistas.

Essa esquematização em quatro fases ajuda a compreender bem a história política e econômica na Europa. Mas, embora as categorias esquerda e direita estejam presentes no mundo todo, elas não funcionam de igual maneira para todos os países.

LIMITAÇÕES E SIMPLIFICAÇÕES DAS DEFINIÇÕES

Apesar de direita e esquerda serem categorias muito complexas e muito diversificadas em si mesmas, pode-se dizer que há, sim, um núcleo que identifica cada uma delas. A esquerda é historicamente associada ao igualitarismo e a direita é vinculada ao não igualitarismo.

O mesmo ocorre com o liberalismo, que se assenta na crença da liberdade individual; com o socialismo, que defende as teses de igualdade social; e com o conservadorismo, que se ressente diante das permanentes transformações das sociedades.

Essas simplificações, no entanto, são muito reducionistas, se se levar em consideração que há uma série de conceitos e de práticas adjacentes que interferem diretamente em cada uma dessas ideologias. É o que ocorre, por exemplo, com as teses neoliberais em relação ao liberalismo, com a democracia cristã em relação ao conservadorismo, e com o comunismo em relação ao socialismo. Isso sem falar nas chamadas ideologias transversais, como nacionalismo, trabalhismo e o ecologismo.

DIREITA E ESQUERDA NOS EUA

Nos EUA, por exemplo, os liberais permanecem à esquerda, enquanto que os conservadores, à direita. Isso tem a ver com o fato de as ideias socialistas nunca terem vingado nos EUA.

Vale destacar, no entanto, que depois da Grande Depressão nos anos de 1930, os liberais passaram a defender um Estado grande, e os conservadores, a menor interferência possível do Estado na economia.

Por isso, até hoje, os Republicanos (que são conservadores e ultraliberais) estão à direita na política norte americana e os Democratas (que são mais progressistas) estão ao que seria uma esquerda política. Mas isso só faz sentido nos EUA.

Nos EUA, o Partido Democrata é um dos dois maiores partidos políticos. É o partido político mais antigo do mundo. O Partido Democrata tem sido a força progressista do país, se posicionando a favor do trabalho nas questões econômicas e sociais. A filosofia econômica de Franklin D. Roosevelt, que influenciou enormemente o liberalismo estadunidense, tem moldado boa parte da agenda política do partido desde a eleição de 1932. A coalizão do New Deal – uma união dos democratas com sindicalistas, operários, minorias (raciais, étnicas e religiosas), fazendeiros, sulistas brancos, intelectuais e com a máquina pública de várias cidades – controlou a Casa Branca até 1953.

O Partido Republicano é o outro grande partido político dos Estados Unidos. Desde a década de 1880 é conhecido pela alcunha Grand Old Party (Grande Partido Velho). Fundado em 1854 por ativistas antiescravidão e modernizadores, o Partido Republicano ganhou notoriedade em 1860 com a eleição de Abraham Lincoln, que usou a máquina partidária para conseguir apoio para vencer a Guerra Civil Americana. O GOP dominou a política estadunidense por dois períodos, de 1854 a 1932. Atualmente, o Partido Republicano apoia uma plataforma política conservadora, que prega o liberalismo econômico, o conservadorismo fiscal e o conservadorismo social.

DIREITA E ESQUERDA NO BRASIL

Essa confusão de compreensão sobre direita e esquerda, no tempo (ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX) e nos diferentes territórios (Europa e EUA), faz com que se deva olhar com bastante cautela para essas categorias na História do Brasil. Afinal, o Brasil do Império do século XIX sofre total interferência da política e economia europeias; ao passo que ao longo do século XX, as diferentes fases da república brasileira são muito influenciadas pelos EUA.

O Período Imperial (1822 a 1889)

No Brasil, a disposição dos atores políticos como sendo de Direita ou de Esquerda remonta ao período do Império, quando se enfrentavam no cenário político o Partido Conservador (Direita) e o Partido Liberal (Esquerda).

O Partido Conservador era formado por grandes proprietários rurais, ricos comerciantes e altos funcionários do governo. Defendiam um regime forte, com autoridade concentrada na monarquia e pouca liberdade às províncias (Estados).

Já o Partido Liberal era composto, além de proprietários de terras também, por pensadores progressistas que defendiam os interesses das camadas médias urbanas e o equilíbrio dos interesses dos senhores rurais sem o com propostas de abolição da escravatura de forma gradual e sem conflitos. Os liberais defendiam o fortalecimento do parlamento e trabalhavam para que as províncias tivessem mais força na política nacional.

Ainda no Império, surgiu em 1831 o Partido Restaurador (que também era chamado de Caramuru), cuja principal bandeira era a volta de D. Pedro I.

A Primeira República (1889 a 1930)

Com a Proclamação da República, o Partido Conservador foi extinto e o Partido Liberal acabou por se tornar a Liga Progressista.

A Proclamação fortaleceu o surgimento de partidos republicanos regionalizados. Cada um defendendo interesses de suas províncias. Neste período se destacaram os Partidos Republicanos de São Paulo e Minas Gerais, naquilo que ficou conhecido como Política do Café-com-Leite e que se alternaram na presidência do país. Vale destaque também para os partidos formados no Rio Grande do Sul e a permanente interferência na política nacional.

Foi o período do coronelismo. Das eleições manipuladas ou de arranjos prévios entre os chefes políticos de cada estado. Como eram os funcionários do governo que controlavam os procedimentos eleitorais e faziam a contagem dos votos, em cada estado brasileiro uma máquina política-eleitoral - composta pelo coronel, pelo cabo eleitoral e pelo curral eleitoral - foi montada com a função básica de garantir resultados satisfatórios ao grupo governante.

Os partidos ideológicos

O início do século XX assistiu ao surgimento de correntes ideológicas muito marcadas em todo o mundo. No Brasil foram, principalmente, dois os partidos que concentraram essas ideologias.

À extrema esquerda, estava o Partido Comunista do Brasil (PCB) que foi fundado em 1922 e era ligado a III Internacional Comunista. Seu principal líder foi o gaúcho Luís Carlos Prestes. O PCB foi responsável pela fracassada tentativa de Golpe de Estado com a Intentona Comunista de 1935 que ocasionou na prisão de seus principais líderes. Durante a Era Vargas o partido esteve a maior parte do tempo na ilegalidade. Após o Golpe de 1964, seus integrantes caíram na clandestinidade ou fugiram do país, mas muitos aderiram a grupos guerrilheiros. No início dos anos 1980, o partido retornou a legalidade, porém dividido em Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Partido Comunista do Brasil (PC do B).

À extrema direita, a Ação Integralista Brasileira (AIB) que foi fundada em 1932. Era inspirada no Movimento Fascista italiano de Mussolini e foi liderado por Plínio Salgado. Algum tempo depois, muitos de seus integrantes ingressaram no PRP. A instauração do Estado Novo em 1937 extinguiu o partido.

A Era Vargas (1930 a 1945)

Getúlio Vargas governou o Brasil por 15 anos, de forma contínua (de 1930 a 1945). Iniciou com a Revolução de 1930, quando expulsou do poder a oligarquia cafeeira, depois de eleições muito conturbadas, invalidadas e, nas quais, o Exército depôs o presidente Júlio Prestes, entregando o governo a Getúlio.

Entre 1930 e 1934, o chamado Governo Provisório deu início ao processo de centralização do poder, eliminando os órgãos legislativos (federal, estaduais e municipais). Além disso, havia forte presença militar no governo, inclusive como designados para assumirem o controle dos estados, o que foi um golpe muito forte na ação dos antigos coronéis e na sua influência política regional.

A tensão entre as velhas oligarquias e os militares interventores criou ambiente para a realização de eleições para uma Assembleia Constituinte. A Carta de 1934 deu maiores poderes ao poder executivo, adotou medidas democráticas e criou as bases da legislação trabalhista. Além disso, sancionou o voto secreto e o voto feminino. Por meio dessa resolução e o apoio da maioria do Congresso, Vargas garantiu mais um mandato.

Nesse segundo mandato (de 1934 a 37), conhecido como Governo Constitucional, a altercação política se deu em volta de dois ideais primordiais: o fascista, defendido pela Ação Integralista Brasileira (AIB), e o democrático, representado pela Aliança Nacional Libertadora (ANL).

A ANL, aproveitando-se desse espírito revolucionário e com as orientações dos altos escalões do comunismo soviético, promoveu uma tentativa de golpe contra o governo de Getúlio Vargas. Em 1935, alguns comunistas brasileiros iniciaram revoltas dentro de instituições militares nas cidades de Natal (RN), Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE). Foi a chamada Intentona Comunista. Getúlio, com isso, desarticulou o movimento comunista, anulou a constituição de 1934 e dissolveu o Poder Legislativo.

A partir de 37, passou a governar com amplos poderes, inaugurando o chamado Estado Novo, um período de ditadura na História do Brasil. Vargas impôs a censura aos meios de comunicação, reprimiu a atividade política, perseguiu e prendeu seus inimigos políticos, adotou medidas econômicas nacionalizantes e deu continuidade a sua política trabalhista com a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), publicou o Código Penal e o Código de Processo Penal, todos em vigor atualmente. Getúlio Vargas foi responsável também pela Carteira de Trabalho, da Justiça do Trabalho, do salário mínimo, e pelo descanso semanal remunerado.

Os partidos nascidos na Era Vargas (1945-1964)

Proibidos durante o Estado Novo (1937-1945) os partidos políticos retornaram com a redemocratização em 1945. Neste período se destacaram o PSD e o PTB, mas vale o destaque para a UDN que foi um importante partido de direita no período.

O Partido Social-Democrático (PSD) foi fundado por aliados de Getúlio Vargas, em 1945. O partido concentrava as alas mais conservadoras. Ideologicamente era o principal representante da socialdemocracia no país. O partido sempre obteve maioria no Congresso. O PSD elegeu dois presidentes: Eurico Gaspar Dutra (1946-1950) e Juscelino Kubitschek (1956-1960). Foi extinto pelo Ato Institucional Número 2 de 1965. O PSD retornou a ativa na década de 1980, e em 2003 foi incorporado ao PTB.

O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi fundado pelo próprio Getúlio em 1945. A base eleitoral do partido era formada por trabalhadores urbanos e tinha forte penetração nos sindicatos. Dois presidentes da República foram do PTB: Getúlio Vargas, eleito democraticamente para governar entre 1951-1954 e, depois, João Goulart (1961-1962), eleito como vice-presidente de Jânio Quadros (em 1960). Ideologicamente o PTB aliava traços nacionalistas, positivistas e socialdemocratas. De sua fundação até 1964 era o partido brasileiro mais à esquerda da política nacional, constantemente era acusado de comunista pelos adversários. Defendia a reforma urbana, reforma agrária, reforma universitária, o crescimento econômico e a Política Externa Independente (PEI).

A UDN - União Democrática Nacional foi fundada em 1945 e reunia antigos políticos de oposição ao Governo Vargas. Era um Partido de orientação conservadora de direita. Congregava setores da burguesia e da classe média urbana. Seus integrantes eram representantes das antigas oligarquias regionais que comandavam os Estados nos períodos anteriores (dos coronéis). Era favorável ao capital estrangeiro e à iniciativa privada, sendo radicalmente contrário à Reforma Agrária e a políticas populares. Defendiam a propriedade privada e o grande latifúndio. Em 1961, fez parte do grupo que tentou impedir a posse de João Goulart.

Além desses três importantes e majoritários grupos políticos, o período pós 1945 viu surgir: a) o Partido de Representação Popular (PRP) com antigos membros da AIB (Ação Integralista Brasileira); b) o Partido Trabalhista Nacional (PTN) que elegeu em 1961 Jânio Quadros cuja renúncia se deu após 9 meses de mandato; c) o Partido Socialista Brasileiro (PSB) situado entre o socialismo marxista e a socialdemocracia, era antigetulista; d) o Partido Social Progressista (PSP) fundado por Adhemar de Barros em 1946, foi um partido muito forte em São Paulo.

O bipartidarismo (1966 a 1979)

Após o Golpe Civil Militar de 1964, os partidos políticos foram novamente proibidos. O Ato Institucional número 1 cassou os direitos civis de 100 pessoas, a maioria políticos, o que enfraqueceu em demasia a oposição ao novo regime imposto. Em 1966, com o lançamento do AI-2, foi instituído o Bipartidarismo, onde a situação se organizou em torno da ARENA e a oposição ingressou no MDB.

A Aliança Libertadora Nacional (ARENA) foi fundada em 1966 como consequência do Golpe. Reunia ex-integrantes da UDN, do PTN e do PSD. O partido era formado por setores conservadores da sociedade brasileira. Sua orientação ideológica era de extrema direita. Com a abertura em 1979, o partido se dividiu em PDS (com o número 11, depois mudou de nome para PPB e depois para PP, como hoje é conhecido) e PFL (com o número 25, depois mudou de nome para DEM).

O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) também foi fundado em 1966. Reunia ex-integrantes da PTB e de outros partidos contrários ao Golpe. O partido era formado por setores liberais da sociedade brasileira. O MDB era o único partido autorizado a fazer oposição ao regime. Em 1980, com a abertura política, o partido foi rebatizado de PMDB, com o número 15. Em 1988, após a Constituição, o partido se dividiu em PMDB e PSDB (este com o número 45).

O pluripartidarismo (1979 ...)

Em 1979, após a Anistia, os partidos políticos foram autorizados a funcionar. Nasceram assim, a maioria dos partidos que hoje estão em atividade.

Da ARENA surgiram dois partidos: a) o Partido Democrático Social (PDS), com as alas mais conservadores e reacionárias. Em 1995, o partido mudou para Partido Progressista Brasileiro (PPB). Em 2003, mudou novamente de nome, desta vez para Partido Progressista (PP); e b) o Partido da Frente Liberal (PFL), com as alas mais liberais da ARENA. Surgia, assim, a Frente Liberal. Se a ideologia do partido é conservadora, suas práticas econômicas são neoliberais. Em 2007, o partido mudou de nome para Democratas (DEM).

Do MDB, surgiu o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Desde a abertura política é o partido brasileiro com o maior número de filiados. Desde o fim da ditadura o partido comanda pelo menos uma das casas do Congresso, em alguns momentos comandou as duas (Câmara e ou Senado). Ideologicamente, defende a democracia e a livre iniciativa. Mas flerta permanentemente com os ideais neoliberais.

Além dessas duas principais dissidências dos partidos do tempo da ditadura, surgiram os dois maiores partidos políticos, ao lado do PMDB, na política brasileira atual.

À esquerda, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi fundado em 1980. Um dos mais importantes partidos de esquerda da América Latina, o Partido dos Trabalhadores surgiu da militância sindical e operária, quando lutava por uma maior participação popular na política. Ideologicamente é identificado com partidos socialistas e socialdemocratas.

À direita, o Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) fundado em 1988 por dissidentes do PMDB. Defende a democracia, a descentralização administrativa, o crescimento econômico sustentável e uma ampla reforma política que reforce os partidos políticos. Apesar de seu nome, ideologicamente defende o neoliberalismo.

Ao lado dessas duas frentes amplas, surgiram vários outros partidos, à esquerda e à direita, bem como uma vários outros de centro, mais precisamente, legendas de aluguel.

O Partido Democrata Trabalhista (PDT) foi fundado por Leonel Brizola em 1980. Congregando a grande maioria dos políticos do antigo PTB que retornavam do exílio. O PDT adotou a mesma base ideológica da antiga sigla, sendo um defensor do trabalhismo. Ideologicamente se aproxima do pensamento socialdemocrata; b)

O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) foi refundado em 1981 por Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio, após uma briga judicial com Leonel Brizola. Desde sua refundação, o partido tem demonstrado uma certa autonomia nos Estados, porém, impreterivelmente o partido está aliado ao poder. O partido é rotulado como legenda de aluguel, pois abriga políticos (candidatos) sem identificação ideológica com o partido.

O Partido Socialista Brasileiro (PSB), originalmente fundado em 1947, foi refundado em 1985. Resgatando o mesmo programa partidário de sua fundação. Representa uma alternativa entre os partidos socialistas radicais e a socialdemocracia.

O Partido Popular Socialista (PPS), fundado em 1992 por dissidentes do PCB, que, após o fim da Guerra Fria, buscavam criar uma terceira via política. Ideologicamente o partido se aproxima de ideais socialdemocratas.

Além de partidos, à esquerda, como o Partido Socialismo e Liberdade (PSol), o Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partido Comunista do Brasil (PC do B), o Partido Pátria Livre - (PPL), o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e o Partido da Causa Operária (PCO).

E, à direita, o Partido Verde (PV), o Partido da República (PR), o Partido Republicano Brasileiro (PRB), o Partido Trabalhista Cristão (PTC), o Partido Social Cristão (PSC), o Partido da Mobilização Nacional (PMN), o Partido Republicano Progressista (PRP), o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), o Partido Humanista da Solidariedade (PHS), o Partido Social Liberal (PSL), o Partido da República (PR), o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), o Partido da Mulher Brasileira (PMB), a Democracia Cristã (DC), o Avante, o PODEMOS, o PATRIOTA, o Solidariedade (SD), o Partido Novo e a REDE Sustentabilidade.

Uma palestra sobre o tema segue aqui:

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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com

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