É verdade que o lugar onde pisamos orienta a visão que temos da realidade. E que essa visão direciona nossas ações.
Ponto de vista é a vista desde um ponto. Perspectiva.
Mas é igualmente verdade que nossa visão da realidade é condicionada também por ideias que circulam na sociedade e das quais somos reprodutores, mesmo que irrefletidamente.
É, por exemplo, a situação do empobrecido (economicamente) que pensa e age com a cabeça do enriquecido. Mais que isso: que é capaz de defender ideias que radicalizam o abismo de desigualdades socioeconômicas que há.
Há quem defenda pautas que são diametralmente opostas aos seus próprios interesses, necessidades e direitos. Há os que o fazem por posicionamento mesmo; sabem que precisam cooperar na transformação da realidade. (Mas os que o fazem porque não pensam com razão própria; apenas reproduzem mimeticamente o discurso dos outros.)
Em parte, é a isso que se denomina ‘paradigma’. Essa ideia-força que é capaz de orientar pensamentos e ações e reforçar permanentemente a realidade tal como está.
Por isso, mesmo quando há (aparentemente) ideias novas elas não têm a potência revolucionária que a vida demanda. Elas tendem a repetir velhos esquemas, mesmo que sob roupagem nova, mesmo quando parecem suscitar polarizações. Aliás, a polarização está sempre aprisionada num mesmo paradigma - a aparência é de ideias opostas - mas a realidade é de cosmovisões complementares, que apenas agradam mais ou menos a públicos distintos.
O desafio que se coloca é a ruptura de paradigmas. E isso demanda mais que mudança de pensamento. Exige coragem de perder. Requer vontade, honestidade e humildade intelectual.
Coragem para sair da zona de conforto. Vontade para enfrentar o novo. Honestidade para reconhecer os equívocos. Humildade para acolher o diferente.
No fundo, as perguntas que se colocam são:
Ao que nossas ideias servem?
A quem nossas posições beneficiam?
Somos (co-)autores ou mero (re-)produtores?
Nosso receio está na perda do lugar que estamos (emprego, clientes, eleitores, fiéis ou amigos)?
Aceitamos, consciente ou inconscientemente, repetir o discurso de quem nos usa por pura preguiça?
Ou seria só oportunismo mesmo?
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