Estamos todos desgastados com a política. Há uma descrença generalizada com os políticos e os com partidos políticos. Cada vez mais, uma parcela maior da população se sente impotente e distante das decisões políticas. Política tem se tornado sinônimo de crime.
Isso tem a ver com o mar de corrupção a que temos testemunhado todos os dias nos jornais. E tem a ver com a sensação de impunidade. A percepção da massa da população é que crimes só são punidos quando são praticados pelo cidadão comum (especialmente, pelos mais pobres); quando o malfeito é perpetrado pelos de “colarinho branco”, a história é outra: há muita leniência do Estado e suas instituições em aplicar a lei.
Mas tem a ver também com interesses de determinados setores, que estão no comando de postos importantes do Estado brasileiro, de que a população se afaste cada vez mais da política e de suas articulações. Quanto menos gente se interessar pela vida pública, mas espaço restará para essa turma que há séculos se locupleta do Estado e da Política nacionais.
Por isso, além de permanecer firme na crítica ao atual estado de coisas, é indispensável resgatar o valor da participação política e a dignidade que há na construção de uma sociedade com cada vez mais consciência política.
A questão é que nos esquecemos que política é uma dimensão integrante da condição humana. Não há humanidade sem política. Não há forma de experimentar a vida humana excluindo-se as categorias próprias da política.
Foi Aristóteles quem universalizou a ideia de que o homem é por natureza um animal político. Para ele, o ser humano tem em si uma exigência da perfeição, uma busca do bem melhor, uma tendência, em outras palavras, para a realização daquilo que é o seu bem; e isso tudo o impelem para a polis. Ou seja, a realização humana passa, também, pelo mergulho dele na vida política. No aprofundamento de suas relações com seus semelhantes por meio da vida social que a polis promove.
Fazemos política no condomínio em que moramos, sendo o síndico que coordena a vida do espaço ou morador cricri que reclama até da cor das plantas; fazemos política na religião, empreendendo um diálogo respeitoso entre os diferentes ou tentando salvar o mundo a partir exclusivamente da minha crença; fazemos política na escola dos filhos, recebendo a simples prestação de um serviço ou participando efetivamente dos conselhos escolares e da vida estudantil da garotada.
Fazemos política de diversas formas e em diversos espaços. Fazemos política quando tentamos servir a comunidade em que estamos ou quando nos utilizamos do espaço público em que vivemos para benefício próprio. Nas grandes e nas pequenas coisas, existem formas e formas de fazer política, para coletividade ou para a individualidade.
Fazemos política, inclusive, quando criminalizamos a política. Afinal, quanto menos gente se interessar pela vida política, mas espaço restará para os que seguem como aves de rapina se aproveitando da vida pública.
Há, por fim, um jeito especialmente nocivo de fazer política: silenciando e deixando as coisas seguirem como estão. Quando se furta a participação nos processos de decisão e de participação só se reforça o cenário que está posto
Em tempos de crise, o silêncio, além de cúmplice, é doloso.
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