Você já se perguntou sobre o que é política? E sobre como há formas diferentes de viver a política?
Vou usar brinquedos e ferramentas para falar de política. Há uma grande diferença entre brinquedos e ferramentas.
Brinquedos são fins em si mesmos. Ou seja, eles existem para uma finalidade, que pode ser alegrar, entreter, espairecer, descansar e divertir. Brinquedos são eles mesmos. Mesmo depois de adultos, guardamos alguns brinquedos na estante porque, antes, eles estão no coração. Estão presentes na memória afetiva da gente. Perderam a utilidade, mas guardam ainda a afetividade.
As ferramentas são diferentes dos brinquedos; se os brinquedos são fins, as ferramentas são meios. Ou seja, servem para fazer algo diferente delas, um trabalho, um conserto. Ferramentas são provisórias. Depois de usadas, devem ser guardadas.
Brinquedos são desfrute, deleite, prazer. Ferramentas são utilidade. Essas diferenças me fazem pensar na política. Vamos lá...
Há uma política ferramenta. Uma política voltada para o serviço. Destinada à construção de uma sociedade menos dividida. Uma ferramenta a serviço dos mais necessitados. Um instrumento de transformação social.
Há, por outro lado, uma política brinquedo. Uma forma de fazer política cuja finalidade é ela mesma, fazer por fazer. Ou seja, uma política que não produz nada, apenas continua o que aí está, do jeito como está. Um brinquedo para o desfrute de quem esta envolvido nela. Alguns chamam a isso de politicagem. Essa política miúda, míope, minguada, manipulada, mal intencionada.
É óbvio que a vida não é só feita de utilidades e ferramentas; é urgente desfrutar dos seus brinquedos e prazeres. Mas, convenhamos, política não é lugar de brincadeira. Política é oportunidade de serviço, de transformação social.
Triste é que há quem faz confunda brinquedos com ferramentas, quem inverta tudo e faça dos fins os meios e, dos meios, os fins. E isso é muito sério: quando os fins justificam os meios, vale tudo!
Quando isso ocorre, os políticos só fazem política; mas uma política que não muda a nossa vida para melhor.
Precisamos, na verdade, da criatividade de quem brinca combinada com eficiência de quem trabalha. Uma política feita com o coração, mas preocupada com a vida concreta das pessoas.
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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com
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