O ódio é uma face da irracionalidade. Em algum sentido - ainda que isso o explique apenas em parte - o ódio é um subproduto de uma sociedade cansada da racionalidade excessiva e excludente.
Desde os gregos clássicos, passando pela escolástica, pelo cartesianismo e, mais recentemente, pelo positivismo, a ênfase na razão pela razão, exclusivamente a razão, fez com que negligenciássemos os aspectos lúdicos e imaginativos da cultura humana. Mais que da cultura, da própria natureza.
Resultado disso tem sido, nesse início de século, um resgate dos aspectos irracionais sem a devida densidade humana e civilizatória. E mais: um cansaço generalizado com discussões mais sofisticadas sobre direito, humanização, cultura e tolerância.
Há traços claros de renascimento das narrativas de heróis e das epopeias irracionais, graças ao desencantamento com a ciência e a política tradicionais.
A psicologia perde espaço para a PNL, a política para as redes sociais, a medicina para as orações e a literatura para os memes.
Há em curso um reencantamento do mundo. Por vias equivocadas talvez. Mas somente as consequências (cujos aperitivos já estão por aí revelando seu apelo) mostrarão a realidade. E somente elas terão eventualmente alguma chance de promover mudança.
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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com
Quiçá.
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