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Milagre


Milagre é uma palavra tão rica de sentidos que só de ser pronunciada parece ter algum poder diferente.

Para uns, milagre tem a ver com o extraordinário. Com aquilo que foge ao considerado normal. É sinônimo de impossível.

Por isso, inclusive, é uma palavra predileta no vocabulário religioso. Parte-se da ideia de que, na natureza, as coisas seguem uma determinada rotina preconcebida. Tudo, porém, que transcende desse fluxo natural é percebido como ação de Deus. Sobrenatural.

No Evangelho de João, todavia, o vocábulo usado em todos os sete “milagres” de Jesus narrados naquele livro é “semeion”. Sinal. Tem mais a ver com o significado do ato do que com o ato em si.

Isso é fabuloso: milagre não é um ato, uma realização ou um feito. É um gesto, uma indicação, um sinal.

O milagre não está na cura, mas no valor da pessoa e na dignidade da vida. Não está no pão multiplicado, mas na comida repartida e na fome saciada.

Não são os atos. São os gestos. Ato é resultado. Gesto é intenção. Os milagres moram naquilo que, antes de ser feito, é bem intencionado.

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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com

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