Uma das ideias mais revolucionárias da religião é ‘conversão’. Tem a ver com a mudança de direção na caminhada. Em geral, uma reviravolta que dá outro encaminhamento à vida. É uma exigência da própria existência: manter-se em permanente transformação.
Em grego, a língua do Segundo Testamento, essa ideia é descrita com a palavra ‘metanoia’. Fazer um giro. Realizar uma mudança. Ir além do pensamento atual.
Esse movimento, contudo, tem a ver com descoberta. Com a caminhada de quem deseja se conhecer melhor e experimentar a vida a partir da lógica da superação permanente. Não é viver uma outra vida. Mas descobrir a sua própria forma de viver verdadeiramente.
Diferente disso, é o caminho doentio de quem busca a qualquer preço uma vida paralela, uma experiência artificial ou um alento escapista para as dores desse mundo de tantas contradições. Esse movimento de quem cria universos concomitantes e se perde nas inconsistências deles. Quem vive um permanente faz-de-conta.
As religiões são, ao mesmo tempo, coração de um mundo sem coração e ópio que inebria, induz e aliena.
Basicamente, é a diferença entre metanoia e paranoia.
__________
(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com
Comentarios