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Empreender: para fora e para dentro


Reflexão com os estudantes do Ensino Médio da CEFFA CEA Rei Alberto I – IBELGA – em Salinas, Nova Friburgo, em seu II Encontro Técnico, com o tema “O Futuro do Jovem no Campo: Empreendedorismo, Saúde e Meio Ambiente”.

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A relação entre “futuro”, “juventude” e “campo” é muito poderosa, do ponto de vista simbólico. Primeiro porque associa a ideia de esperança no futuro à vitalidade da juventude; depois, porque relaciona essas duas energias tão motivadoras à cultura do campo. Nada mais oportuno que “potencializar” a cultura rural brasileira com a força que brota da utopia – do futuro que precisa ser cheio de boas novidades e da juventude que tem a oportunidade histórica de realizar essa virada civilizatória.

Observações iniciais

Há, todavia, que relativizar a ideia de futuro quando não está diretamente atrelada à força e a realidade do presente. O futuro, em si, além de ficção, é apenas uma expectativa. O deslocamento da esperança para o tempo futuro pode ser um esvaziamento dela. Uma espécie de adiamento permanente da vida. Há que se viver o presente. E enfrentar seus desafios.

Outra necessidade urgente é romper com as categorizações de idade como se, por si mesmas, fossem capazes de significar as pessoas. Jovens e adultos precisam deixar de ser apenas referência de idade e precisam voltar a assumir sua vocação original de expressar a tensa realidade humana mesclada de intrepidez e maturidade, desejo e racionalidade. No fundo, o que interessa é que a vitalidade da juventude permaneça pela existência toda e a experiência da maturidade não sirva de obstáculo à busca do novo.

Não menos importante é destacar a eventual oposição entre “campo” e “cidade”. Se é verdade que houve na história brasileira ao longo do século XX uma série de problemas e injustiças decorrentes do êxodo rural, é verdade também que os setores agropecuários hoje correspondem a uma parcela importantíssima da economia brasileira, inclusive do ponto de vista de sua produção cultural. A oposição pode ser superada e, em lugar dela, deve-se construir uma efetiva valorização das culturas do campo que passem pela denúncia da irracionalidade capitalista do agronegócio predador do meio ambiente e das pessoas, e que passem pelo anúncio de uma vivência respeitosa, criativa e sustentável (das lavouras, dos pastos e das ideias).

Saúde

O conceito de saúde tem a ver intimamente com a ideia de “qualidade de vida”. A ONS entende que saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças.

Nesse sentido, saúde tem a ver com ruptura de estereótipos. Está associada aos conceitos de autorrealização e autoconhecimento. Numa palavra, saúde tem a ver com “ser”.

Meio ambiente

Na Conferência de Estocolmo, organizada pelas Nações Unidas em 1972, meio ambiente foi definido como "o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas."

Para além dessa definição específica, vale a pena refletir sobre o conceito pelas perspectivas humanas e sociais também. Além de uma ecologia da natureza, há que se pensar sobre uma ecologia da sociedade e uma ecologia da humanidade.

Há a urgência - em tempos de depredação da natureza, conflitos e desigualdades sociais e profunda amargura humana – que refletir e agir sobre “ecologia”, “economia” e “ecumenismo”. Sobre a dimensão biológica, política e psicológica da vida. Numa palavra, meio ambiente tem a ver com “conviver”

Empreendedorismo

Empreendedorismo em sentido estrito, tem a ver com a iniciativa de implementar novos negócios ou mudanças em negócios já existentes. É um termo muito usado no âmbito empresarial e muitas vezes está relacionado com a criação de empresas ou produtos novos, normalmente envolvendo inovações e riscos.

Nesse sentido, empreender está diretamente ligado a ideia de “desejo”; àquela ambição que mora no coração humano e que o impele a caminhar e desbravar terrenos desconhecidos (ambição é diferente de ganância).

E está também associado à busca por felicidade. No fundo, o que desejamos é realização pessoal. Tem a ver com viver uma vida que faça alguma diferença e que deixe um legado para trás de si. Supera a biologia e assume-se como biografia.

As ideias centrais de se empreender são “conhecer” e “inovar”.

Empreender: para fora e para dentro

Vistos dessa forma, os três conceitos aqui pensados (empreendedorismo, saúde e meio ambiente) ajudam a perceber uma dinâmica essencial da existência: o movimento de sair de si e movimento de mergulhar em si. Movimentos que, apesar de distintos, procedem de uma mesma força humana em busca de realização, conhecimento e felicidade.

No movimento para fora, empreender significa relacionamento com a natureza sob a perspectiva, por exemplo, da inovação tecnológica; e, é claro, com os desafios da sustentabilidade e da máxima otimização dos recursos sem a cultura extrativista vigente há século. Empreender significa relacionamento com a sociedade sob a perspectiva, por exemplo, da renovação política e dos novos arranjos de governança e participação. Em ambos os casos, empreender está diretamente condicionado pela questão ética. No fim das contas, os resultados dos empreendimentos estarão associados aos valores éticos empreendidos nas ações, escolhas e prioridades.

No movimento para dentro, empreender significa relacionamento consigo mesmo sob a ótica da autorrealização do eu, no sentido de se encontrar no mundo e ser capaz de saber seu lugar. Aqui, também, a questão decisória tem a ver com ética. Com a capacidade fazer escolhas que levem em consideração a liberdade humana em conexão com os outros.

Empreender é um desafio ético: para fora, em busca de transformação da natureza e da sociedade, como desafios do “conhecer” e do “conviver”; e para dentro, em busca de saúde como realização do ser.

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Confira aqui a apresentação:

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