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Em quem votar em 2018?


Tenho refletido sobre as eleições de 2018 e ainda não sei em quem será o meu voto para presidente da república. Mas já tenho a convicção de que precisamos ter bastante maturidade e muito discernimento para errar o mínimo possível; afinal, nosso cenário é muito preocupante. E pode piorar definitivamente.

Acredito, primeiramente, que precisamos fugir de qualquer polarização que seja apenas esse tipo de rivalidade de ‘nós contra eles’. Esse discurso, além de batido e vencido, é equivocado, já que não há tanta diferença assim entre os dois grandes grupos políticos que lotearam o país nos últimos 20 anos.

Precisamos, também, fugir de qualquer alternativa que seja do tipo aposta; voto apenas como protesto contra o que aí está e que seja um gesto irresponsável. Candidatos aventureiros e com discurso messiânico não devem ter nossa simpatia. O país, por ser grande e complexo, demanda qualificação técnica e motivação política. Gente que saiba como fazer. Mas saiba antes fazer escolhas e tomar decisões tendo por critério o ser humano, especialmente os mais vulneráveis.

Não podemos, todavia, simplesmente virar as costas e não participar do processo. Além de ser irresponsabilidade democrática, é essa a postura que interessa a muitos que estão nos bastidores do poder. Interessa a quem quer plantar a imagem da desmoralização política para a sociedade de modo que mais gente se afaste da vivência eleitoral e, com isso, os mesmos de sempre permanecem eternamente nos mandatos. Nesse cenário, simplesmente votar já é um exercício de protesto.

Temos que tentar fugir da sedução das disputas e do voto simplesmente em quem aparentemente lidera pesquisas (eleição não é aposta em corrida de cavalos). É indispensável que não permitamos que o país se arrisque ainda mais, como quem brinca com fogo. O voto não pode ser baseado na ideia de competição. Votar em um candidato simplesmente por acreditar que seja ele quem vai ganhar a eleição é um desserviço pleno. É importante lembrar que o voto existe exatamente com a promessa de que as coisas podem ser mudadas.

Vale a pena, também, estarmos atentos aos discursos justiceiros de combate à corrupção. Historicamente, esse tipo de plataforma serviu para esconder interesses de poder por trás da cortina da moralidade. Corrupção é um problema série, sim, e precisa ser enfrentado com legislação e responsabilização; mas o principal e mais radical problema brasileiro é a concentração de riqueza nas mãos de uns pouquíssimos e uma multidão de seres humanos vivendo em condições absolutamente indignas.

Outro elemento central nesse pleito será o papel das redes sociais e da ampla disseminação de notícias falsas. Essa história de plantar mentiras infelizmente sempre foi expediente em campanhas. Mas agora esta sensivelmente potencializada. Olhos abertos e discernimento serão indispensáveis.

O quadro está tão movediço, e diferente das últimas sete eleições, que, mesmo no primeiro turno, parece que não dará para ter um voto de posicionamento ideológico. Teremos que ser sensatos o suficiente para dar um voto útil e estratégico. Do contrário, corremos seriamente o risco de cair nas mãos de aventureiros que, ao preço do sacrifício especialmente dos mais pobres, radicalizarão na entrega do que resta do do país. Não necessariamente apenas por projeto, mas por incompetência mesmo.

Escolher um nome nas eleições de 2018 será muito mais que um exercício de opinião: será como assinar um sentença de morte ou plantar uma semente. Vamos precisar de muita sabedoria.

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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com

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