(por Ricardo Lengruber)
Eu, francamente, gostaria de ter nessa eleição a chance de discutir políticas públicas para o país. Gostaria de considerar a necessária alternância no poder, as propostas dos candidatos e suas execuções e adoraria cultivar as reflexões sobre ideologias políticas e econômicas. Preferiria até denunciar corrupções, caixas dois, clientelismo e a má política. Mas isso não foi possível. Para o governo do Estado do Rio, vou tapar o nariz e teclar 25. DEM, imagine! Não gosto da política do Eduardo Paes, mas, diante do que se apresenta como opção, como democrata, vou votar contra mais judicialização da política e do governo. É uma mescla de despreparo em gestão com protofascismo. Além disso, o deputado Comte Bittencourt ajuda no credenciamento político de Paes nesse cenário. Alimento a expectativa de que pontes de contato sejam estabelecidas para cobrança e sugestões. Para o governo federal, o fato é que temos diante de nós uma candidatura que não me representa sob nenhum aspecto. E, de todos, o aspecto a mim mais relevante e repugnante é de natureza ética, existencial, humana, espiritual. Tem a ver, inclusive, com a minha fé. Não posso dormir tranquilo tendo depositado meu voto em quem elogia e homenageia torturador. E que considera todos os subprodutos da tortura (violência, arbitrariedade, violação de direitos e crimes) como razoáveis. A tortura é uma mancha na nossa história. E é preciso ter coragem para denunciá-la e, com ela, todos os seus arautos. O país ainda vive em seus porões a tortura sistemática da juventude negra, pobre, lgbt e feminina. Precisamos romper com isso. Sinceramente, não votaria no PT nessas eleições não fosse o cenário que aí está. Considero que precisaríamos de outras experiências na esteira do desenvolvimento e da inclusão. Mas vou de Haddad, sim. E voto nele porque ele me parece maior que o PT nesse momento. Além de professor, é uma pessoa que tem demonstrado uma sensibilidade ímpar. Tem um currículo que o credenciaria a ser presidente de qualquer grande democracia no planeta. É professor de ciência política da Universidade de São Paulo (USP), instituição pela qual se graduou bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia. Foi ministro da educação (experiência que acompanhei por força de minha profissão) entre 2005 e 2012. Fez um trabalho excepcional. Terei orgulho de dizer que - se vencermos - ajudei a eleger o Professor Haddad. Se perdermos, terei igualmente orgulho de dizer que perdemos lutando por uma nação soberana, livre e feliz.
No fundo, essa polarização toda é falsa na sua origem. Não são dois lados. Não são dois extremos. É o discurso democrático, racional e progressista (a despeito de todas as suas limitações e contradições) contra a barbárie, irracional e reacionária. Domingo, voto 25 e voto 13. Na segunda, qualquer que seja o resultado, migrarei para a trincheira da oposição crítica.