O cenário político brasileiro tem sofrido críticas e ataques de todos os lados. E com (muita) razão. Fisiologismo e corrupção são as principais acusações. De um lado, um sistema que se sustenta sobre a ideia de que somente governos com ampla maioria consegue avançar. Para isso, a lógica que impera é a da coalização. Mas juntar sob um mesmo guarda chuva dezenas de partidos de ideologias (quando existem) tão difusas não é possível, a não ser que seja com troca de favores, cargos e verbas. De outro, uma aliança nada republicana de setores da iniciativa privada com os que ocupam cargos de comando político. Pra se eleger, os políticos recorrem às empresas; para financiar, as empresas esperam beneficiamento ao final das eleições. Está fechado o círculo da corrupção. Começa institucional e culmina no cometimento de crime mesmo. Esse cenário proporciona o sentimento geral de insatisfação e desejo de transformação. O atalho mais fácil é o do autoritarismo. Saídas como Bolsonaro e Trump são muito sedutoras. Apelam para o messianismo. Mas, um pouco mais elaboradas, são as alternativas de aparente “renovação”. É a fórmula de Dória e Makron. “Outsiders” que se arvoram a capacidade de reformular a política. Na prática, porém, o que se vê é apenas remodelação de táticas de acesso ao poder e mecanismos de propaganda e marketing. Política não se renova com propaganda. Política é cultura. No Brasil, a cultura vigente é o patrimonialismo. O Estado é o inimigo que deve ser expropriado. O corrupto não é o criminoso, apenas. É a sociedade que luta contra o Estado. A renovação efetiva deve passar necessariamente pela mudança da cultura. E isso não se faz de cima para baixo. Obrigatoriamente, deve nascer da efetiva participação das pessoas (minimamente organizadas). O artista da tv de grande audiência que deseja cooperar na renovação da política só o fará se tiver coragem de usar sua popularidade para estimular a organização de associações de moradores, conselhos populares, comitês comunitários e outras formas embrionárias de interação da população com seus governantes. Se seguir pela via do apadrinhamento de meia dúzia de iluminados cujos nomes ainda são desconhecidos dos eleitores (e parecem, por isso, ser renovação) só reforçará o círculo vicioso que perdura no país. Pode até ser que mudem os personagens, mas o enredo será o mesmo. Política de transformação não é coisa que se faz de uma eleição para outra. Política de renovação se faz com investimento sério em Educação devidamente comprometida com a formação das pessoas, com a efetiva preocupação comunitária e com uma inteligência que reforme as bases do Estado de direito. Fora disso, qualquer maquiagem só fará com que elejamos, de novo, velhos novos salvadores da pátria.