Insisto na tese de que “a forma” de que se diz é tão importante quanto “aquilo” que se está dizendo.
Isso é bom e ruim ao mesmo tempo.
Bom porque, se a gente souber ajustar o discurso, será possível dialogar sobre os mais diferentes temas, por mais espinhosos e conflituosos que sejam. Boa parte dos conflitos surge por conta da forma ofensiva, debochada ou anuladora do lugar do outro.
Ruim porque, sabendo-se usar bem as palavras e as ideias, pode-se vender gato por lebre facilmente. Uma razoável parcela de “verdades” que se alardeia por aí tem a ver com as imagens bonitinhas e um bom jogo de palavras.
A título de exemplo, vale refletir sobre um vídeo a respeito de “meritocracia” que está circulando bastante.
Uma fileira de jovens prestes a iniciar uma corrida. O primeiro colocado será premiado. Antes de dar a partida, o organizador vai pedindo que deem um passo à frente os que gozaram de determinados “privilégios”. Depois de meia dúzia de perguntas, uns caminharam bastante, outros permanecem estacionados na linha de partida. O organizador mostra que os que estão a frente assim estão posicionados porque foram privilegiados sem que necessariamente fizessem algo para isso. O mesmo ocorre com os retardatários: nada fizeram por si mesmos que os desqualificasse. Foram oportunidades desiguais apenas.
O vídeo é uma bela demonstração de como um discurso bem feito, coerente, sincero e humanizando as questões pode conscientizar, convencer e debelar preconceitos.
Vi muitos amigos que, em outros contextos, seriam veementemente contra políticas públicas afirmativas ou de compensação, mas que se sensibilizaram bastante com o vídeo.
Às vezes, falta só isso mesmo: sensibilização.