No livro do Qohélet, há uma expressão que se repete diversas vezes: "tudo é 'hebel'". As Bíblias em português mais usadas traduzem 'hebel' por 'vaidade'.
'Hebel' é o mesmo que efêmero, passageiro, volátil. Trata-se da impermanência. Da vida em sua dimensão de transitoriedade.
O Qohélet não poupa críticas a forma como a vida se desenha. Riqueza, poder, sabedoria e, mesmo, a espiritualidade são "hebel". Nesse sentido, ler o Eclesiastes é um exercício de profundo realismo.
E ficam os questionamentos: até onde vai o altruísmo e onde começa a vaidade? Aliás, em que medida ele próprio, o altruísmo, não é um disfarce politicamente correto da vaidade e sua efemeridade?
Até onde vai o espírito de serviço e onde começa a vaidade do professor que ensina, do médico que salva, do político que atua, do humanista que estende a mão, do religioso que prega, enfim, do pai que cuida?
Em que medida o gesto na direção do outro não é um afago em si mesmo?
Uma existência livre exige libertação todo dia. Entre a sedução da vaidade e a plenitude da felicidade, há a concretude da efemeridade.
"Na vida, tudo passa; tudo passará."