Um professor é a personificada consciência do aluno;
confirma-o nas suas dúvidas;
explica-lhe o motivo de sua insatisfação
e lhe estimula a vontade de melhorar.
Thomas Mann
Professor é a função pela qual se define o profissional de educação responsável pela tarefa de ensinar propriamente dita. Há muitos profissionais nas escolas e universidades, mas ninguém que substitua o professor.
Desde que ficou claro às famílias mais abastadas na Antiguidade que não lhes seria possível se incumbir integralmente pelo ensino dos ofícios, saberes, regras e bons modos, surgiu então a figura do professor, como uma espécie de tutor, orientador, condutor, explicador.
A história da função, entretanto, só fez alargar o significado da profissão e, a ela, foram incorporadas as noções de pesquisador, criador, idealizador, especialista, escritor etc.
Durante a Idade Média, berço da Universidade, professores eram, em sua maioria, clérigos e, como tais, portadores de uma missão que extrapolava os limites da sala de aula e das escolas. Gozavam de pouca autonomia e prestavam demasiada obediência aos ditames da fé e das autoridades eclesiásticas.
Na Modernidade, palco do renascimento da ciência e da dúvida criativa, professores conquistaram um lugar importante e reconhecido na sociedade, afinal incorporavam os sinais de seu tempo, profissionais que anunciavam o novo momento por que passava a humanidade.
Isso tudo, todavia, era parte de uma fração muito pequena das sociedades. Escolas não existiam por todas as esquinas e o acesso às salas de aula era privilégio de uma minoria mais rica.
No Reino Unido, por exemplo, o uso do título Professor é muito restrito, sendo reservado apenas a docentes seniores em universidades. O nível inicial da carreira acadêmica em universidades britânicas, aberto normalmente a indivíduos que já detenham o grau de doutor, é designado Lecturer. Seguem-se os níveis de Senior Lecturer, Reader e, finalmente, Professor, este último atingido apenas por um número muito pequeno de indivíduos que normalmente são chefes de departamentos acadêmicos ou detêm uma cátedra pessoal.
No Brasil, entretanto, Professor é o profissional que ministra aulas e cursos em todos os níveis educacionais.
Foi somente com o advento dos tempos hodiernos e a universalização da educação pelos modernos estados democráticos de direito que ocorreu a explosão da profissão. E foi justamente aqui emergiram, também, mil desmandos e senões na profissão.
De início, o Estado passou a se responsabilizar pela educação primária. Escola era espaço de criança e, assim, lugar preferencial para o trabalho da mulher. Professoras, como tias, eram uma espécie de segunda mãe, responsável pela educação e boa formação dos meninos.
Se para os homens, o ideal era a formação bacharelar (medicina, engenharia, direto), às mulheres estava reservada uma vaga no Curso Normal.
Com o aumento da oferta educacional e o avanço das especializações (decorrentes do ensino secundário e universitário), a profissão passou a requerer formação mais extensa e um nível mais aprofundado nos estudos. Nesse momento, estavam abertas às portas para outros profissionais que, como opção de renda extra, passaram a “dar aula”.
Existem hoje no Brasil cerca de 1,5 milhão de pessoas trabalhando como professores no ensino fundamental. O número de professores vem crescendo ao longo das últimas décadas a uma taxa anual entre 2,5 e 3,0%, o que significa cerca de 40 mil novos postos de trabalho criados a cada ano. O contingente de professores representa hoje cerca de 1,7% da população adulta brasileira e 2,5% da população adulta ocupada. A escolaridade média dos professores no ensino fundamental no Brasil é de 12 anos de estudo e, portanto, quase o dobro da escolaridade média da força de trabalho no país. Esses dados mostram que a profissão não apenas cresceu, mas tornou-se uma referência da qualidade de uma nação.
Se, por um lado, é fato notório o crescimento da profissão, por outro, é clara também a realidade difícil em que vivem os profissionais.
Uma primeira dificuldade tem a ver com a remuneração mensal. Embora os dados apontem para um salário médio ligeiramente maior se comparados a outros postos de trabalho com o mesmo perfil de formação acadêmica, os números apenas revelam o quão injusta é a distribuição de renda no país.
Mas, não menos importante, é a questão da autoridade do professor. A “tia” do passado gozava de um lugar respeitado na sociedade. A ela estava confiada a árdua tarefa de inibir o egoísmo e estimular os bons modos, sem, naturalmente, deixar de cumprir o currículo. O professor era uma espécie de base sobre a qual a sociedade se apoiava no trabalho de incutir valores e conhecimento.
Nas últimas décadas, esse quadro mudou drasticamente. Talvez pelo crescimento da iniciativa privada (por vezes escrava das pressões de mercado), pela ineficiência do Estado (ofertante da maioria das vagas, mas sem o devido respaldo aos seus profissionais) e, sem dúvida alguma, pela falência da família, cada vez menos sustentada em rigor e ternura (valores próprios e necessários ao ambiente doméstico), os professores perderam sua legitimidade e, com isso, convivem dia-a-dia com as crianças e jovens, mas sempre sob a pressão e o medo de uma sociedade tão mais preocupada com direitos do consumidor e danos morais e cada vez menos disposta a corrigir excessos e punir culpados.
Os valores viraram de cabeça para baixo e enquanto permanecer essa lógica em que professores são vistos como prestadores de serviço e a escola como ofertante de um produto a ser adquirido, valerão as regras do mercado e da proteção do aluno e da família como consumidores. A questão, no entanto, é que educação não é produto e a relação professor-aluno não cabe nos ditames de um código de defesa de consumidor.
Já passou da hora de se resgatar o espaço da sala de aula como berço da cidadania e a pessoa do professor como garantidor da ordem e dos valores constitutivos de uma sociedade livre e igualitária.
Um professor que, para além de lecionar, ensina sempre o valor de cada pessoa. Uma professora que, antes e acima de tudo, deverá ser ouvida e respeitada na sua profissão.
"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme, cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudí-lo? Vai repreendê-lo?
Não. O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo." (C. D. de Andrade)