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Educação e Desenvolvimento


Não é novidade para ninguém que desenvolvimento econômico e social é condição para melhoria da qualidade de vida de uma população. Também não há nada de novo em relacionar a capacidade de desenvolvimento de uma nação e seus índices de educação e qualificação profissional.

Há, todavia, destaques que merecem atenção. Primeiro sobre o que é desenvolvimento, segundo sobre a natureza da educação que almejamos.

A definição de desenvolvimento deve passar, necessariamente, pela ideia de desenvolvimento sustentável; pela capacidade de suprir as necessidades atuais, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações; em outras palavras, desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. O grande desafio, nesse caso, é discutir e propor meios de harmonizar os dois pólos (até então vistos equivocadamente como irreconciliáveis): desenvolvimento econômico e conservação ambiental.

Uma sociedade desenvolvida, além de garantir direitos básicos a que todo ser humano tem direito, como educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer e segurança, deve assegurar a capacidade de emancipação de cada indivíduo; deve gerar condições de trabalho e renda que dêem a cada pessoa liberdade de escolha. Toda pessoa deve ter acesso ao trabalho e dele obter os meios dignos de sua sobrevivência.

O caminho para o trabalho (e a qualidade de vida dele decorrente) passa obrigatoriamente por um caminho de formação educacional sério e comprometido.

Educação compreendida como processo de desenvolvimento das capacidades humanas, sobretudo nos seus aspectos cognitivos, corporais e comportamentais, integradamente.

Daí a urgência de se acordar para o valor da educação. Embora seja "chover no molhado", nunca é demais insistir no fato de que só ocorrerá desenvolvimento quando se compreender educação como valor civilizatório.

Educação que passa pela capacidade de "aprender a conhecer" (no sentido de adquirir instrumentos de compreensão cognitiva); não há educação que não prime pelo conteúdo: por "o que se ensina" e "como se ensina".

Educação que foca o "aprender a fazer" (para poder agir sobre o meio envolvente); formação voltada para a utilidade do processo educacional, no sentido de habilitar os indivíduos para o trabalho e para a produtividade. E, nesse pormenor, educação é sinônimo de estímulo da criatividade e da inteligência. O que mais é demandado das pessoas na atualidade é a capacidade inventiva e a inteligência criativa. Aprender esquemas já prontos não ajuda muito mais. Ha modelos que já estão desgastados e obsoletos. Aprender significa sobretudo inventar.

Educação que supõe "aprender a viver coletivamente", que prima pela cooperação com os outros em todas as atividades humanas; que dá densidade social à vida e ajuda a cada indivíduo perceber-se como parte de um todo maior. Formação educacional que passa por política, democracia, voluntariado, cidadania, liberdade de expressão etc.

Educação que, finalmente, contribua na suprema missão de "aprender a ser"; como processo que integra o caminho para fora (na busca por conhecimento e transformação), com o caminho para dentro (que torna cada pessoa livre de alienação e pacificada consigo mesma). Sem entrar no mérito da educação religiosa, toda educação que se preza passa sim por um processo profundo de auto-conhecimento.

Todo o processo passa irremediavelmente pela valorização das pessoas, de cada pessoa em particular. Do aluno que aprende e do professor que ensina. Se é verdade que só ocorre aprendizado significativo quando o aluno é visto na sua singularidade e incentivado nas suas potencialidades; é verdade também que só há êxito quando o professor é valorizado na sua capacidade e reconhecido na sua dignidade profissional.

Se a ideia é a busca por desenvolvimento pela via da educação, nada melhor que começar a jornada pela valorização e desenvolvimento das profissões que a envolvem. Do contrário, muito ainda se discutirá e pouco avanço haverá.

Educação e desenvolvimento são braços de um mesmo corpo. Mais que causa e consequência, são facetas interdependentes de uma mesma realidade.

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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com

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