Prof. Ricardo Lengruber (ricardo@lengruber.com)

11 de jan de 20182 min

Memória e esquecimento

- Sete anos depois do maior acidente climático na região serrana do Rio de Janeiro e em Nova Friburgo.

Diante da tragédia, ao menos dois caminhos são possíveis: ou se entrega à derrota, ou se aproveita para reordenar a caminhada.
 

 

 
A memória da noite de 11 para 12 de janeiro de 2011 deve ser preservada. As centenas de mortes e as incontáveis perdas materiais e humanas devem ser celebradas com o respeito e a reverência que exigem. E precisam servir de oportunidade para reconstrução a partir de novas bases.
 

 

 
É verdade que houve algum investimento em obras de reconstrução, sim; mas falta ainda muito. E falta o principal: uma reconstrução que não seja apenas de cimento e tijolo, mas de cultura.
 

 

 
Não conseguimos honrar a memória dos de morreram naquela noite porque não aproveitamos aquela dor infinita para elaborar estratégias eficientes de prevenção e enfrentamento de situações de crise.
 

 

 
Apesar de ter sido aprovada lei federal sobre o tema, a cidade (inspiração para criação da lei) não avançou em praticamente nada a respeito. A Lei 12.608/12 criou a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), mas continuamos por aqui sem um sistema de informações e monitoramento de desastres efetivo e eficiente.
 

 

 
Não conseguimos fiscalizar, por exemplo, a ocupação do espaço urbano, impedindo as construções em áreas de risco e com a decida orientação de engenharia pública. Sequer conseguimos prover moradia para todos que, desde a tragédia, estão esquecidos em cantos sob risco.
 

 

 
Aliás, as poucas iniciativas de desenvolvimento econômico e as sucessivas crises dos últimos anos têm aprofundado a cada dia mais a situação de precariedade de moradia em que se encontram milhares de famílias.
 

 

 
Além disso, não conseguimos tirar do papel políticas públicas de longo prazo sobre sustentabilidade. Sequer fazemos a coleta seletiva do lixo. Apesar de estarmos privilegiadamente encravados no meio de uma imensa e bela área de mata atlântica, desprezamos esse diferencial com a ausência absoluta de planejamento, preservação e investimento no setor.
 

 

 
Mais do que isso: a ausência do poder público só faz potencializar o problema. Ou seja, não há fiscalização da ocupação do solo, não há preservação das matas e encostas e não há planejamento permanente de enfrentamento das situações de crise.
 

 

 
Ou seja, ainda contamos, exclusivamente, com a sorte.
 

 

 
Por outro lado, os dias que se sucederam à tragédia de 2011 mostraram uma rede de solidariedade muito grande. As ruas estavam repletas de voluntários. Havia uma cooperação generalizada em todos os setores: alimentos, abrigo, atendimento, socorro e toda sorte de apoio que a situação demandava. Isso deve ser sempre lembrado: ainda há esperança no espírito humano. Nós podemos fazer diferente.
 

 

 
Passaram-se sete anos. Estamos às portas das comemorações dos 200 anos da cidade. Quem sabe seja esse mais uma oportunidade para resgatarmos a memória e vislumbrarmos a reconstrução da cidade.
 

 

 
Nova Friburgo precisa mais que festa em 2018. Precisa, honestamente, de uma refundação. E isso deve passar, obrigatoriamente, pela solidariedade cujos sinais janeiro de 2011 testemunhou.


 

 

 

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