Essa imagem me faz pensar em várias questões. A primeira tem a ver com a imprudência e a imperícia do motorista. Talvez (por puro achismo por enquanto - e correndo o risco de ser injusto) uma combinação irresponsável de alta velocidade e álcool. Mas a imagem também faz pensar no momento em que, simbolicamente, ocorreu o acidente. Às vésperas do 16 de maio dos 200 anos, um acidente de trânsito destrói o único (e modesto) sinal público dessa data que poderia ser tão significativa para toda a população. Nova Friburgo tem números alarmantes em termos de ocorrências de trânsito. Entre 2012 e 2014, estava entre os piores cenários do país, tanto em índices de alcoolemia quanto de ocorrências com vítimas. Nem precisa ser especialista para saber que Mobilidade está entre nossos principais problemas. Não apenas mobilidade entendida como ruas, vagas e quebra-molas. Mas como educação, infraestrutura e fiscalização. Nossos últimos governos têm feito escolhas equivocadas. Insistimos em privatizar o estacionamento, comprar a peso de ouro usina de asfalto e construir os quebra-molas mais caros; mas continuamos sem vagas nas ruas, ruas cheias de buracos e gente correndo demais apesar dos obstáculos primitivos. Destruir a casinha do relógio, além de dano ao patrimônio público, é símbolo de uma tragédia bem maior que nos assola há décadas. Talvez seja hora de parar mesmo a contagem regressiva. E olhar para frente. Porque há um futuro a ser construído.
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(*) Ricardo Lengruber é professor. Doutor pela PUC Rio, tem livros e artigos publicados nas áreas de Educação, Religião e Políticas Públicas. Foi Secretário de Educação em Nova Friburgo, presidente da ABIB e é membro da Academia Friburguense de Letras. Visite www.ricardolengruber.com