Há um "discurso de sucesso" se proliferando em vários espaços: nas empresas, nas igrejas, nas escolas e nas famílias. Há, mais que isso, uma exigência pelo sucesso. Uma ideia estranha de que a vida só faz sentido se for plena de êxito, de realizações e de glórias. É um mantra que vive repetindo: "Tudo com o que você sonhar você poderá realizar. E você deve sonhar alto. Você pode ser rico, ser bem-sucedido, passar no vestibular, ser abençoado e ser sempre muito feliz." E é claro que cada receita de felicidade tem mil e uma estratégias. Há treinadores e mentores especializados nos detalhes dessa empreitada. São como que inspiradores por meio dos quais as pessoas se preparam para vencer na vida. A ajuda dos outros não é, em si, de tudo ruim. Primeiro porque às vezes precisamos mesmo de apoio para vencer certos obstáculos; depois, porque há áreas da vida em que somos menos hábeis que em outras e, nessas questões pontuais, carecemos também de mais atenção e foco. Especialmente no que diz respeito ao mundo do trabalho, por exemplo, essas técnicas podem ajudar muito. As técnicas cognitivas e comportamentais são, sim, úteis, mas não dão conta das questões profundas da existência. A vida é complexa demais para caber apenas no discurso de que o desejo é o motor da conquista. Há muito mais em jogo do que simplesmente “reprogramar” a mente nessa ou naquela direção.
A tristeza, o tédio e as fraquezas povoam a existência humana. As frustações fazem parte da caminhada e, por contraditório que pareça, é também através dessas experiências que podemos crescer e amadurecer. O problema surge quando essa pregação moderna do sucesso (que até se confunde com o discurso religioso) cria a sensação e o sentimento de urgência, de necessidade, de obrigatoriedade. "Vencer" passa a ser um imperativo. É nesse ponto que a inspiração passa a ser opressão. O sucesso impõe-se como fardo. Isso é ruim por vários motivos.
Porque cria ansiedade; aquela ideia de que "ainda" não sou o que devo ser. Há sempre a sensação de que há muito pela frente. O futuro passa a ser a grande realidade da vida. Cria-se uma expectativa tal que, na prática, é impossível de se atingir.
Porque promove frustração: nem sempre dá para ser ou fazer aquilo com o que se sonha. O senso de realidade – que é diferente de determinismo ou derrotismo – deixa de ser a bússola orientadora da existência; confunde-se utopia (que é inspiradora e motivadora) com paranoia (que frustra e desaloja).
Porque gera culpa; porque desconsidera que a inevitabilidade de certos fracassos tem a ver com as intempéries da vida, e não apenas com uma programação equivocada do "eu" que não soube se orientar no caminho do êxito. Esse tipo de discurso que culpa sempre o indivíduo esbarra na crueldade. Uma coisa é responsabilização, outra bem diferente é determinação exclusiva e individualizada da culpa. Porque, apesar de parecer que o controle está em suas mãos, há sempre uma receita a ser seguida. As técnicas sobrepõem-se à autonomia dos indivíduos. Inibe a liberdade e pasteuriza as pessoas sem considerar, no fim das contas, a beleza da individualidade humana e sua multiformidade. Terceiriza a própria identidade. E é ruim, por fim, porque passa a ideia de que o hoje é apenas a preparação para o amanhã do sucesso. Adia o inadiável. Adia a própria vida.