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Foto do escritorRicardo Lengruber

A OPRESSÃO DO SUCESSO


Há um "discurso de sucesso" se proliferando em vários espaços: nas empresas, nas igrejas, nas escolas e nas famílias. "Tudo com o que você sonhar você poderá realizar. E você deve sonhar alto. Você pode ser rico, ser bem sucedido, passar no vestibular, ser abençoado e ser sempre muito feliz." E é claro que cada receita tem sua própria estratégia. Há treinadores e mentores especializados nos detalhes dessa empreitada. Isso não é, em si, de tudo ruim. Primeiro porque às vezes precisamos mesmo de apoio na vida para vencer certos obstáculos; depois, porque há áreas da vida em que somos menos hábeis que em outras e, nessas questões pontuais, carecemos também de mais atenção e foco. As técnicas cognitivas e comportamentais são, sim, úteis, mas não dão conta das questões profundas da existência. A vida é complexa demais para caber apenas no discurso de que o desejo é o motor da conquista. A tristeza, o tédio e as fraquezas povoam a existência humana. O problema surge quando essa pregação moderna do sucesso (que até se confunde com o discurso religioso) cria a sensação e o sentimento de urgência, de necessidade, de obrigatoriedade. "Vencer" passa a ser um imperativo. É ruim porque cria ansiedade; aquela ideia de que "ainda" não sou o que devo ser. Porque promove frustração: nem sempre dá para ser ou fazer aquilo com o que se sonha. Porque gera culpa; porque desconsidera que a inevitabilidade de certos fracassos tem a ver com as mil e uma intempéries da vida, e não apenas com uma programação equivocada do "eu" que não soube se orientar no caminho do êxito. Isso esbarra na crueldade. Segundo, porque, apesar de parecer que o controle está em sua mãos, há sempre uma receita a ser seguida. Inibe a autonomia e pasteuriza as pessoas sem considerar, no fim das contas, a beleza da individualidade humana e sua multiformidade. Terceiriza a própria identidade. E é ruim, por fim, porque passa a ideia de que o hoje é apenas a preparação para o amanhã do sucesso. Adia o inadiável. Adia a própria vida.  

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