Há uma má vontade generalizada com os políticos; com a política, portanto. O que é, até certo ponto, compreensível.
Sob o discurso de combate à corrupção (que, óbvio, precisa ser superada), tem se levantado a tese da gestão eficiente.
Como se a administração puramente técnica fosse a fórmula mágica de controle da corrupção política.
Criou-se equivocadamente a polarização "política versus gestão". Mais do que um erro, por trás dessa tese se aloja uma bem orquestrada reformulação de conceitos políticos muito retrógrados e diminuidores de direitos.
A questão é, na verdade, que gestão é apenas ferramenta de trabalho. Antes dela, é preciso um projeto. E é isso que se denomina política.
A política ilumina a gestão. A gestão depende da visão política.
É claro que quanto melhores as ferramentas de gestão, melhores também as chances de resultados mais perceptíveis. Mas, a qualidade desses resultados depende, antes de tudo, do projeto político que se tenha.
Os fins determinam os meios.
Numa democracia, quando fazemos uma escolha (um voto), o fazemos (ou deveríamos fazer) em relação às políticas públicas que aquele candidato (e o seu grupo) propõe e representa.
Não há salvadores da pátria. Há, mesmo que se deseje passar a impressão do contrário, projetos políticos que subjazem a ação (a gestão). Essa ideia de que o prefeito é um gestor (e não um político) é um engodo.
Em tempos de novos/as prefeitos/as assumindo suas cadeiras, vale a pena refletir sobre o que queremos. Não há gestão sem política.
O que há – e isso é péssimo – é um discurso da eficiência pela eficiência. Esconde-se, todavia, sob esse argumento uma agenda de "menos" público, "menos" política.
Quem perde é a coletividade. Perde porque os projetos políticos sem a ampla discussão da coletividade tendem a perseguir interesses particularmente localizados. Mas perdem especialmente os mais vulneráveis social e economicamente.
Pode soar dissonante com os discursos da moda, mas o que mais se precisa hoje é de política; mais política.