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Prof. Ricardo Lengruber (ricardo@lengruber.com)

GRAÇA: o nome do amor


Umas das mais belas e potentes tradições bíblicas é o Êxodo.

Quando Deus ouviu o clamor de seu povo oprimido, viu sua aflição, conheceu seu sofrimento e desceu a fim de livrá-lo, levando-o para uma nova e boa terra.

O relato envolve sinais e prodígios – desde pragas até um mar inteiro se abrindo para os sofredores fugirem da perseguição e da dor.

O curioso é que – na sequência dos textos – há um episódio bem anterior ao Êxodo, relatado em Gn 12. Nele, Deus também lançou pragas contra o Faraó. Desta primeira vez, no entanto, a beneficiária foi Sarai, esposa e meia-irmã de Abrão, que havia sido tomada como mulher do Faraó.

Noutro episódio, os beneficiários foram Hagar (a escrava de Sarai, esposa de Abrão) e Ismael (seu filho com o velho Abrão). Quando mãe e filho foram expulsos da aldeia e minguavam a beira da morte no deserto, Deus veio em seu socorro com sombra e água fresca.

É sintomático que “certo e errado”, na Bíblia, estão em direta conexão com a justiça e a misericórdia. O lado de Deus é, via de regra, o lado dos fracos. O lado da mulher ´coisificada´ e da criança ´abandonada´.

E mais animador ainda é que os discursos de ódio e sectarismo (tão em voga na boca dos líderes religiosos da mídia de hoje) não tenham respaldo efetivo nas Escrituras. Ao contrário.

Tudo é uma questão de perspectiva.

A cruz e a morte de Jesus não foram acidentes de percurso. Foram, antes, conseqüência de sua vida.

Sua intransigente opção pelo bem e pelo amor o fizeram ter que encarar as ameaças da cruz.

Como não recuou um milímetro em sua opção, a morte levantou-se como inevitável e é exatamente nesse sentido que a morte passou a fazer parte de sua vida; e, mais ainda, a morte deixou de ser fim e passou a ser inauguração de uma nova dimensão da caminhada: a ressurreição.

A morte de Jesus foi fruto de sua vida. O que salva não é a morte, nela mesma. É a vida. Isso, sim, tem potência salvadora.

Não é o sangue em si mesmo. Não é a violência nela mesma. Não é o sofrimento por si só. O que salva, ainda, é a vida.

Ao dizer que a morte de Jesus salva, afirma-se que somente uma vida engajada com a verdade e com a coragem de enfrentar os riscos da morte em nome da justiça é que tem esse dom.

Não há vida que nasça da morte. A vida é causa e consequência de mais vida. É um círculo virtuoso por excelência.

O Cristo ressuscitado é o mesmo Jesus crucificado; carrega as mesmas chagas.

A vida, porém, ascendeu a um novo patamar onde as fronteiras entre vida e morte ruíram e um Ser Humano novo, recriado, passou a viver plenamente!

O domingo de ramos é uma antecipação do que se tornaria o maior princípio de fé dos cristãos: a cruz.

As vitórias que realmente importam não se conquistam com armas e razões. Ao contrário, há sempre uma dose de fracasso.

O Galileu, ameaçado de morte e perseguido, optou por ir a casa de seus algozes. Sua recepção com uns gritos de hosana é quase um deboche.

O triunfo de sua chegada a Jerusalém foi, ironicamente, coroado com a cruz. Porque onde há muito barulho há sempre um golpe à espreita.

Talvez houvesse entre os que forraram seu chão com ramos os que dias à frente pediram por Barrabás.

A história não se repete. Mas há muitas coincidências.

Felizes o que têm fé: a vida prevalecerá.

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