Há muito disse-me-disse na imprensa e nas redes sociais sobre as manifestações do dia 13/03. Uma queda de braço para saber quem venceu e quem perdeu. Uma sucessão de afrontas e ofensas sobre quem foi e quem deixou de ir.
Já há algum tempo que se arrasta essa polarização de “elites” e “povo”, “PSDB” e “PT”, “direita” e “esquerda”. Considero uma falsa polarização. Primeiro porque entendo que o cenário é bem mais complexo que “eles” e “nós”. Segundo porque a superação do atual momento turbulento de nossa história demanda muito mais que partidarismos cegos e radicais.
Está claro que os modelos de PT e PSDB estão superados. As ruas (com todas as ressalvas que o termo merece) têm mostrado que há um descontentamento com o esse governo incompetente e com essa oposição igualmente corrupta. A questão é que ainda não se tem clareza sobre o rumo que tomará o grosso da população – quem efetivamente decide uma eleição.
Dizer que os “pobres” são massa de manobra e são aliciados pelo governo assistencialista, além de não convencer, não condiz com a complexidade da realidade. Afinal, entre os mais abastados não é diferente. Muda apenas o registro da manipulação. Bolsa família de um lado, Lava-Jato de outro. Ambos são legítimos e necessários, mas padecem da seriedade e da isenção da coisa pública, que consegue transcender partidos e eleições.
Nessa ausência de referências políticas consistentes, abre-se espaço para o extremismo. Dilma e Aécio perderam (cada um a seu modo). Nas ruas e nas urnas. Mas, por mais que neguemos, Bolsonaro e similares vão abrindo espaço e vantagem. É cedo para dizer que há sustentação social e eleitoral para avançarem mais. Mas há, sim, esse risco. (Digo que seja risco porque o discurso dessa turma tem a ver com privação de direito e recrudescimento da força policial, por exemplo).
Não menos pior é a proposta (ainda vaga e despretensiosa) do ex-presidente Fernando Henrique sobre um “semipresidencialismo”. A orquestração dos donos do poder tem um roteiro aparentemente muito bem definido: sangrar o governo, criar o mote do basta de corrupção, deificar o judiciário (personalizado), impedir a presidenta ou cassar sua chapa, entregar nas mãos do congresso a definição do próximo líder. Há clareza que, se assim não for, corre-se o risco de o país virar um caldeirão sem controle. Uma eleição direta nesse cenário é um tiro na cabeça de quem está há décadas no poder (leia-se PMDB e quem dele se locupletou).
Parece que a instabilidade criada no pós-eleição (alimentada pelo PSDB e seus satélites) alimentou um monstro que nem o governo nem a ‘oposição’ são capazes de domesticar. A extrema direita conservadora e violenta está ganhando espaço, notoriedade e simpatizantes.
Resta saber quem surgirá (se ocorrer) dessa celeuma toda. Lula e o PT? Talvez. As bases militantes, orgânicas, sindicais talvez ainda tenham força. Os próximos meses dirão. PSDB e seus caciques? Pouco provável. Seus governos são tão mal avaliados quanto os do PT, mas carecem do carisma do lulismo. Bolsonaro e Malafaia? Sem dúvida têm crescido e ganhado espaço. Resta saber se conseguirão a adesão dos que viabilizam a tal da governabilidade nesse país.
Uma coisa é certa: o PMDB está umas três ou quatro jogadas à frente. Se houver impeachment, assume Temer. Se ocorrer a cassação da chapa Dilma-Temer, assume Cunha. Se Cunha cair, assume Renan. E, pior ainda, se for depois de janeiro de 2017, as eleições serão indiretas. O Congresso (e toda força que nele tem o PMDB) darão as cartas.
A esperança é que surjam lideranças para 2018. Se não surgirem, ao menos que se reconheça entre as que aí estão forças alternativas capazes de fazer o país respirar. Forças que viabilizem e conjuguem política social, desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental.
Minha intuição é que as eleições municipais de 2016 darão o tom. O quadro nacional se dará mediante as mudanças que eventualmente ocorrem nos municípios. Por isso, as manifestações do dia 13/03/16 só terão algum valor histórico de verdade se isso se repercutir em eleições novas nos municípios.
Quem quer mudança, de verdade, começa mudando pela própria casa. Cortar na própria carne.
Eu quero mudança em 2016 e em 2018. E você?