Educação é, para muitos, sinônimo de trabalho escolar, de aulas e de recursos bem elaborados. Penso diferente. Educação é o que torna o ser humano o que ele deve ser. Somos humanos porque transcendemos o universo da natureza e mergulhamos no mundo dos sonhos. Sim, somos humanos porque sonhamos, porque imaginamos, porque conseguimos construir mundos inteiros sem dar um passo. O que nos difere dos animais não é, simplesmente, a capacidade racional. É, isto sim, a possibilidade de, pelo uso da razão e dos sentidos, transformar o mundo que nos cerca e fazê-lo nosso, totalmente diferente, segundo nossas necessidades. Isso é cultura. Isso é educação.
Educação é, por causa disso, o conjunto de ações que favorecem o despertamento dessa qualidade exclusiva dos seres humanos, a criatividade. Qualquer coisa que não promova a criação não é educação.
Vale, assim, pensar sobre a educação que usufruímos no cotidiano escolar. Aprendemos Língua Portuguesa porque queremos nos expressar melhor e, por intermédio do que há de mais sofisticado na cultura humana, a linguagem, transformar nosso mundo. Porém, preferimos os substantivos, verbos, orações, regras e ortografias em detrimento da leitura desinteressada. Valorizamos mais procurar “o que o autor queria dizer (!!!)” do que apreciar Lobato como quem ouve Brahms ou Villa-Lobos.
Aprendemos Matemática e as Ciências porque consideramos razoavelmente importante transitar bem no arraial dos números. Mas mesmo os engenheiros mais bem formados e dedicados visceralmente à sua ciência não usam as “equações do segundo grau” como fazem os alunos nos bancos escolares, que só usam caneta, papel e memória dilatada para saber fórmulas sofisticadas. Porque são responsáveis e inteligentes, usam calculadoras e computadores, que, aliás, são resultado dos inteligentes sonhos humanos. E não erram. Fico imaginando um projetista de estruturas prediais errando seus cálculos por puro preciosismo acadêmico, em vez de entregar-se aos benefícios da tecnologia moderna.
Aprendemos História e Geografia porque queremos compreender melhor nossa sociedade. Mas parece minimamente estranho saber o nome dos afluentes da margem direita e os da margem esquerda do Amazonas. Ou, por exemplo, saber o ano em que nasceu Tiradentes. Ou, ainda, a diferença entre um monte e uma montanha. Prefiro acessar a internet ou ler enciclopédias, atrás desses conhecimentos acumulados pelo tempo. Esses recursos são mais competentes do que a maioria esmagadora da literatura didática. Na escola do meu filho, prefiro que se desenvolva sua criatividade, ou, ao menos, não atrapalhem-na a florescer. Curiosidades amenas – se assim desejar – ele as busca por conta própria.
Creio que o problema esteja no currículo escolar. O engessamento das disciplinas proíbe qualquer vôo mais ousado. Apesar da boa vontade e criatividade dos bons mestres, fica praticamente impossível permitir às crianças que descubram o prazer que há na construção de mundos novos. Isso porque na escola – tal como ela se nos apresenta – não há essa chance. Ficou proibido construir possibilidades novas que comprometam o cumprimentos dos “objetivos propostos no plano de curso”. Da maneira como pensamos a educação, está decretada a mediocridade humana. Ficaremos a meio caminho da vida como nos foi dada pela natureza e da vida como sonhamos. Permaneceremos estacionados.
O vestibular é a coroação suprema dessa mediocridade. Tudo gira em torno dele e para ele. Mas é preciso lembrar que vestibular não é assunto de educação. Vestibular é problema político. Porque não há vagas para todos nas Universidades, criou-se a perversa necessidade da avaliação.
O problema – ou a vantagem disso tudo – é que o ser humano não se acomoda facilmente. A vida aspira por subir mais alto e por mergulhar mais profundamente. Se não for na escola o lugar em que possamos encontrar tais possibilidades, o faremos fora; na rua, no cinema, na roda de amigos …
Queria que meu filho estudasse numa escola onde pudesse aprender as línguas dos outros, para compreender melhor seus semelhantes, por mais distantes que estivessem. Gostaria que aprendesse sobre o canto dos pássaros, para respeitar mais o mundo que o cerca e aprender a ouvir música de boa qualidade. Ficaria muito feliz com uma hora de contação de histórias divertidas que o levasse a visitar mundos imaginários. Adoraria saber que ele passou uma tarde inteira brincando enquanto ouvia o Quebra Nozes. Me sentiria tranqüilo ao saber que ele se interessou por culinária ou por jardinagem.
Acho que é isso. Ao invés de ser o lugar onde se recebe informações, a escola do meu filho deveria ser a oportunidade de transcendência, de ser ele mesmo.
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