Participei de um Seminário sobre Mudanças Climáticas, acontecido no dia 06 de julho de 2011, em Nova Friburgo.
Foi um dia repleto de apresentações sobre as profundas alterações pelas quais está passando nosso planeta. Não apenas no que diz respeito às mudanças climáticas em si, mas também no que tange ao impacto que a obra humana exerce sobre a Natureza.
Aprendi muito sobre Aquecimento Global, Defesa Civil, Planejamento Estratégico etc. Mas o que mais me chamou à reflexão foi a incapacidade revelada por escolas e universidades em preparar jovens e profissionais devidamente habilitados para viver num mundo mudado e que exige de cada um dos seus habitantes nova visão das coisas.
A mesma capacidade intelectual humana que nos deu a chance de transformar a natureza e torná-la amigável à civilização, fez com que criássemos uma sociedade profundamente consumista. Mais do que adaptar a Natureza às demandas da vida humana, tornamos essa mesma Natureza num paiol de suprimentos equivocadamente considerado infinito e inesgotável.
A realidade, todavia, nos surpreendeu com a escassez dos recursos naturais. Mesmo os considerados renováveis não têm tido condições de se renovar. A oferta tem sido bem menor que a demanda.
A população planetária, apenas nos últimos 200 anos, deu um salto quantitativo de 7 vezes. Um planeta vazio e ainda engatinhando em tecnologia do século XVIII agora é uma colméia super-habitada e demasiadamente eficiente em tecnologia predatória e consumista.
Não apenas a relação com a Natureza, mas as próprias lógicas sócio-econômicas estão defasadas e anacronicamente estimuladas. Teóricos do século XIX – como D. Ricardo, A. Smith e K. Marx – devem ser relidos à luz do mundo contemporâneo. Desenvolvimento não pode mais ser sinônimo de crescimento do consumo.
O curioso é que mesmos as religiões têm estimulado o consumo desenfreado. A teologia da prosperidade é um arremedo irresponsável do modus vivendi moderno.
Fato, entretanto, é que a era da abundância perdeu seu espaço para o tempo da escassez. Os homens de hoje estão postos diante do desafio maior: viver com menos.
E me coloco então a refletir sobre o currículo da escola de hoje. Em que medida as ciências que aprendemos – da maneira como as aprendemos – oferecem alternativas eficazes à transformação da realidade que vivemos?
Não é possível imaginar que as Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia), presentes na escola brasileira, não sejam capazes de ajudar a pensar e, acima de tudo, a mudar o rumo das coisas. A matriz utilitarista-desenvolvimentista deve, imperativamente, ceder espaço a um olhar cuidadoso e humanitário. A mesma engenharia que despertou o motor à combustão interna deve, agora, ajudar-nos a desenvolver tecnologias limpas e sustentáveis.
As Ciências Humanas e Sociais não estão no currículo para discutir um tempo que não é hoje. Olham para o passado simplesmente porque querem construir um futuro e, como tal, devem ser abrir aos ventos do tempo que se chama presente. Basta de reflexões anacrônicas de um mundo que deixou de ser.
As Linguagens – desde a língua materna até as múltiplas expressões artísticas e corporais – podem contribuir com uma nova forma de dizer e ouvir sobre a realidade. É preciso ter em mente que o discurso sobre as coisas faz parte dessas mesmas coisas!
Por fim, a Matemática; porque ainda continuar estudando fórmulas e equações que nos fazem apenas patinar, se há um mundo inteiro de modelos matemáticos e problemas concretos para os quais a Matemática deve estar a serviço?
Penso em Friburgo, por exemplo. Somos 190 mil habitantes, dos quais 40 mil estão na escola básica. É um número expressivo que tem muito o que dizer e fazer, mas que anda calado porque nosso currículo sofre de um mal muito sério: olha para o próprio umbigo e se esquece que o mundo real está do lado de fora.
Para mudar o mundo de fora parece que precisamos antes mudar o mundo que mora dentro de nós.
O tempo de reduzir, reutilizar e reciclar é o mesmo tempo de estudar, criar e inovar!